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OUTRAS MÍDIAS


FATO AMAZÔNICO - Há um mês na terra Yanomami, força-tarefa federal tem desafio de manter trabalho de longo prazo


Da Redação | Publicada em 26/02/2023 14:00

A emergência em saúde na Terra Indígena Yanomami (RR), declarada pelo governo federal em 21 de janeiro, não está perto do fim. As ações humanitárias e de expulsão de parte dos garimpeiros ilegais trouxeram alívio à crise e salvaram vidas. Mas as demandas por comida e saúde seguem altas, e o restabelecimento da segurança alimentar promete desafiar as autoridades públicas.

Abandonado nos últimos anos segundo denunciaram todas as organizações indígenas locais e nacionais, o território dos povos Yanomami e Ye’kwana passou a ser prioridade do governo Lula (PT), que levou para a terra indígena reforços do Ibama, Forças Armadas, Funai e equipes do Sistema Único de Saúde.

“Ainda está ocorrendo remoção de pacientes mais graves, que estão indo para o Hospital Geral de Roraima. O que está se tentando  fazer é restabelecer a saúde, os polos base e as UBS nos territórios Yanomami, que ficaram fechados nesse período todo”, diz a antropóloga e indigenista do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Gilmara Fernandes Ribeiro.

Segundo ela, o trabalho de restruturação da saúde deve perdurar por meses. “A região do Homoxi, por exemplo, ficou um ano sem atendimento. Quatro polos de saúde foram abandonados e fechados por causa da invasão e das ameaças de garimpeiros”, complementa.

No último balanço da emergência em saúde divulgado pelo governo federal, até 20 de fevereiro mais de 5 mil atendimentos médicos já haviam sido realizados. Só no hospital de campanha montado pela Força Aérea Brasileira (FAB) em Boa Vista (RR), mais de 1,5 mil indígenas foram tratados.

O polo de saúde em Surucucu, onde os indicadores de saúde são um dos piores, alivia a demanda nos hospitais de Boa Vista que estão lotados de indígenas, mas não possui estrutura para tratar casos graves.

Por isso, a organização não governamental EDS (Expedicionários da Saúde) anunciou que vai destinar R$ 3 milhões para montar um hospital de campanha em Surucucu, possibilitando atendimentos complexos em uma das regiões mais devastadas pelo garimpo ilegal.

Ibama não tem estimativa de quantos garimpeiros fugiram

O espaço aéreo sobre o território foi fechado pela FAB durante uma semana e deve seguir parcialmente reaberto até maio. Sem os aviões que transportam carga, os invasores começaram a sofrer com a falta de comida e combustível. Parte deles bateu em retirada, mas nem todos.

“É muito difícil ter uma estimativa de quantos garimpeiros já deixaram o território e quantos ficaram”, disse o coordenador de operações de fiscalização do Ibama Hugo Loss.

Segundo ele, a estratégia principal do órgão ambiental tem duas frentes. Uma é o estrangulamento das principais linhas de fornecimento e rotas comerciais e outra é o ataque efetivo nas frentes de expansão dos garimpos onde os garimpeiros estão instalados.

“A diferença agora é que estamos com um planejamento de executar ações de longo prazo no território. Anteriormente a gente ficava pouco tempo, conseguia executar a destruição dos equipamentos e dos bens empregados na atividade ilegal, mas rapidamento os garimpeiros retornavam a atividade. Então agora a estratégia é manter as equipes fixas durante um longo período de tempo como estratégia de retomada do território”, explicou o chefe de operações do Ibama.

O servidor de carreira do Ibama vê uma diferença drástica entre as posturas do governo de Jair Bolsonaro (PL), investigado sob suspeita de genocídio contra os Yanomami, e de seu sucessor na presidência.

“Se você comparar a ação do Lula de ir à Roraima e dizer que vai acabar com o garimpo na terra indígena Yanomami, em questão de dias já houve uma mobilização, como o fechamento do espaço aéreo. Diversos garimpeiros saíram do local. Você consegue perceber que a fala do presidente tem um papel significativo para conter o garimpo nesse momento. E certamente a fala do presidente tem o mesmo efeito quando ele diz o contrário”, disse, referindo-se às declarações públicas de Bolsonaro que incentivaram o garimpo ilegal.

Ainda conforme Loss, outra medida fundamental foi o lavramento de multas que somam R$ 12,6 milhões à empresas por venda irregular de combustível de aviação a garimpos na terra Yanomami.

Mesmo assim, a presença de garimpeiros continua provocando episódios de violência. Na última semana, uma base do Ibama foi atacada na região do Palimiu, onde o garimpo é conduzido por facções criminosas ligadas ao tráfico de drogas. Garimpeiros armados furaram o bloqueio montado no Rio Uraricoera e atiraram contra agentes do órgão que abordaram uma das embarcações. Um garimpeiro ficou ferido e foi preso.

Distribuição de alimentos tem logística insuficiente

A força tarefa federal tem dificuldade para expandir os atendimentos a todo o território. O motivo é a má conservação das pistas de pouso e a baixa disponibilidade de aeronaves militares para levar equipes médicas e cestas básicas, conforme revelou com exclusividade o Brasil de Fato.

Apesar da logística insuficiente, o Ministério de Saúde informou que foram distribuídas mais de 5,5 mil cestas de alimentos aos indígenas. A estimativa mensal de entrega é de 12,6 mil cestas com uma cobertura estimada de 282 comunidades em situação de insegurança alimentar. Nesses locais, vivem cerca de 21 mil pessoas.

Diante da descoberta de um esquema de corrupção que deixou 10 mil crianças indígenas sem remédio para verminose, a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) promoveu uma intervenção administrativa no Distrito de Sanitário Especial Indígena Yanomami (DSEI-Y), afastando a ingerência de políticos locais na saúde indígena.

E depois da emergência?

Se o governo Lula for bem sucedido em zerar os atendimentos emergenciais e expulsar todos os garimpeiros, o principal desafio será garantir a segurança alimentar dos indígenas.

Para o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), o alto grau de contaminação por mercúrio e de desagregação social das comunidades provocada pelo garimpo produziu impactos duradouros que dependerão de políticas públicas eficazes para serem superados a longo prazo.

“Será preciso restabelecer o cultivo de roças nessas comunidades, assegurando a alimentação também por meio do fortalecimento da caça e pesca, que estão muito impactos por causa do garimpo. Esse é um desafio que vai demandar muito trabalho de todos os órgãos responsáveis, em junto com as organizações indígenas”, avaliou Gilmara, do Cimi de Roraima.

Para a indigenista, essas iniciativas terão que responder à realidade dos Yanomami, um povo agricultor, caçador e coletor que vive da floresta. “Essa floresta vai ter que voltar a responder a isso. E aí vem um trabalho ecológico de estruturação. Acho que vai ter que se pensar em algumas comunidades mudarem de região, por causa da questão da contaminação e da depredação ambiental”, projeta Gilmara.