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NOTIMP 191/2025 - 10/07/2025

Publicado: 10/07/2025 - 08:53h
PORTAL UOL


Saiba como vai ficar: FAB acerta em cheio ao criar novo museu aéreo em SP


Alexandre Saconi | Publicada em 09/07/2025 05:30

A manhã de 23 de junho não era tão fria como os dias mais recentes, mas o clima era de empolgação. Foi quando embarquei em um voo da FAB (Força Aérea Brasileira) rumo ao aeroporto de São Carlos, no interior de SP, para acompanhar uma missão histórica.

Histórica não só pelo tamanho que ela vai ter, mas pela sua relevância para o país. Naquele dia, tinha início a transferência de parte do acervo do Museu Asas de um Sonho, anteriormente denominado Museu da TAM, para aquele que será o maior museu aéreo do estado de São Paulo, localizado no Campo de Marte, na capital paulista.

O novo local se chamará Mapa (Museu Aeroespacial Paulista) e deverá ser aberto ao público em até três anos. Ele irá ocupar uma parte do terreno onde hoje está o Pama-SP (Parque de Material Aeronáutico de São Paulo), que será readaptado após o término da aposentadoria dos caças F-5 da FAB, cuja manutenção é realizada ali.

O voo

Como sempre, segurança em primeiro lugar. O voo estava planejado para decolar do Campo de Marte. Entretanto, com a previsão de chuva intensa e com o avião lotado, mudou-se o local para a Base Aérea de São Paulo, junto ao aeroporto de Guarulhos.

A aeronave foi um C-99A de matrícula FAB 2522, um Embraer ERJ-145 que opera pelo Esquadrão Condor, sediado no Rio de Janeiro. A aeronave tem capacidade para até 50 passageiros e, a bordo, estavam, além de jornalistas, mecânicos de aeronaves, comandantes e três brigadeiros da FAB, o que mostra a importância da missão.

Em 25 minutos, todos pousávamos no aeroporto de São Carlos e, por meio de uma passagem especial, acessamos com a aeronave o pátio de aviões da Latam, que mantém o seu maior centro de manutenção em um terreno anexado ao aeroporto.

O antigo museu da TAM

Ao cruzarmos entre hangares com aviões de última geração passando por manutenção e modernizações, chegamos ao espaço onde ficava o museu da TAM, que ficou aberto entre 2006 e 2016. Hoje, muito pó cobre o acervo, formado por cerca de 110 aeronaves, muitas delas trazidas com carinho e cuidado pelos irmãos Rolim Amaro e João Francisco Amaro, fundadores do espaço e da TAM, a antiga Transportes Aéreos Marília.

Foi muito interessante ver como o local, mesmo fechado há quase uma década (desde a venda da TAM para formar a Latam), ainda mantém intactos dezenas de exemplares históricos. Entre eles, os enormes Constellation da extinta Panair e Fokker 100 da TAM.

Durante a visita, três exemplares se destacavam entre os demais. Além de imponentes, os três exemplares de guerra estavam completamente limpos, sem poeira e sem marcas do tempo aparentes.

Eram as três primeiras aeronaves que estavam sendo preparadas para serem levadas para São Paulo, para marcar o começo do MAPA.

Os exemplares

Um grupo de mecânicos da FAB que voaram para São Carlos conosco se apresentou ao brigadeiro Luiz Cláudio Macedo dos Santos, um dos responsáveis pela coordenação da implantação do novo museu em São Paulo. Na sequência, todos iniciaram o processo de desmontagem dos três primeiros exemplares que viajarão em carretas para a capital paulista.

São eles:

Messerschmitt Bf 109: Este foi o principal caça da Alemanha na Segunda Guerra Mundial e o mais produzido da história do conflito. A unidade que integrará o Mapa foi encontrada em um lago congelado, após ser abatida, e passou por um minucioso processo de restauração. Essa é uma aeronave muito rara de ser encontrada, de difícil acesso até mesmo em museus internacionais, justamente por ter atuado pelos nazistas durante o conflito.

F4U Corsair: Considerado um dos melhores caças de seu tempo, o Corsair teve papel decisivo na campanha que transcorreu no Pacífico durante a Segunda Guerra Mundial. Ele tem grande importância histórica e é difícil de ser visto fora de feiras ou instituições especializadas. O modelo que irá ao Mapa chegou ao Brasil por meio de parcerias internacionais estabelecidas ainda na época da TAM.

Supermarine Spitfire: O caça foi peça-chave na resistência britânica durante a Batalha da Inglaterra, enfrentando diretamente o Messerschmitt 109 nos céus europeus. Era veloz, versátil e marcou um avanço tecnológico importante para a Força Aérea Real britânica.

O novo museu

O Mapa será instalado em uma área de 85 mil metros quadrados no Campo de Marte, em parte do antigo Pama-SP, em oficinas desativadas. Embora a especulação sobre a nova localidade seja antiga, remontando a promessas de 2018 junto à criação de um parque no mesmo local, agora a iniciativa começa a tomar traços definitivos.

O acesso será facilitado tanto por terra quanto por via aérea, com previsão de pátio para aeronaves visitantes e possibilidade de apresentações aéreas no futuro. Essa última questão é um pouco delicada, pois demonstrações do tipo são bem restritas sobre áreas urbanas, mas nada que impeça algo mais comportado, como o que acontece nos dias em que há os portões abertos da FAB no local, com exposição de aeronaves e shows aéreos.

O acervo do museu já nasce entre um dos maiores do mundo, com mais de 80 aeronaves históricas. As três primeiras aeronaves deverão estar em exposição durante a Labace, maior feira de aviação executiva da América Latina, que será realizada entre os dias 5 e 7 de agosto no local. Com isso, já será possível ter um gostinho do que o futuro reserva.

Ao todo, deverão ser 40 aviões do antigo Museu Asas de Um Sonho e outros 40 aviões do acervo da Força Aérea Brasileira, que também cedeu os técnicos especializados para a desmontagem, transporte e restauração das aeronaves.

A gestão do local ainda está sendo modelada. A Prefeitura de São Paulo, o governo do estado e a FAB estudam criar uma organização da sociedade civil ou parceria público-privada para garantir a viabilidade econômica do espaço. A SP Parcerias conduz os estudos de concessão, segundo a FAB.

Mas, até lá, o público poderá acompanhar mostras temporárias e inaugurações parciais, como a que irá ocorrer durante a Labace.

A iniciativa é ousada e pretende ser mais do que um mero "depósito de aviões velhos". O projeto conta com espaços educativos, acessibilidade para pessoas com deficiência, área para autistas (TEA), exposições temáticas e uma proposta de imersão histórica que vai do período da Segunda Guerra Mundial até a aviação moderna no Brasil.

Segundo o brigadeiro Macedo, a intenção é "não apenas preservar, mas contar histórias de superação, inovação e memória nacional".

Apoio

Além de todo apoio da FAB, que vai desde o terreno até a mão de obra especializada, o espaço também deverá contar com investidores, nos moldes de grandes centros culturais mundo afora.

Marcos Amaro, presidente do Museu Asas de Um Sonho, se mostrou muito empolgado durante o evento, assim como em outras oportunidades em que conversamos sobre o museu. "Esse é um projeto para a sociedade, muito maior do que o interesse de uma, duas ou três pessoas. Nosso compromisso é com a memória da aviação e com a preservação do trabalho de tantos entusiastas que ajudaram a construir esse acervo", afirmou o filho de Rolim Amaro.

Como um dos grandes mecenas do país na atualidade, ele também mantém o Fama Museu (Fundação de Artes Marcos Amaro), em Itu (SP), que reúne um dos maiores acervos de arte contemporânea do Brasil. Ali fica parte do acervo do Asas de Um Sonho, que abriga hoje réplicas de aeronaves históricas, como o São Paulo, de Dimitri de Lavaux, o Blériot XI, de Louis Blériot, além do 14-bis e o Demoiselle, ambos de Santos Dumont, entre outros.

Qual a importância?

Cada pessoa tem uma interpretação particular do que é cultura e do que deve ser preservado por um museu. Ver um projeto dessa escala decolar diante dos meus olhos é um privilégio e um alento em tempos em que tantos museus sofrem com o abandono.

Em um período em que o Museu Nacional conseguiu se reerguer das cinzas, vemos a importância de entender o passado para melhorar o futuro. Esse museu, se sair como planejado do papel, será um dos maiores tesouros aeronáuticos do mundo, ao lado de espaços na Europa e nos Estados Unidos, respeitadas as devidas proporções.

Hoje o Brasil conta com espaços de respeito para quem admira a aviação. O próprio Musal (Museu Aeroespacial), da FAB, que fica a cerca de 25 km do centro do Rio de Janeiro, é um dos exemplos, e é dele que virá parte do acervo do Mapa.

Ainda há alguns lugares onde é possível conhecer a cultura aeroespacial no Brasil. Poucos, para ser franco, mas nenhum com as dimensões do Musal ou do futuro Mapa.

Como exemplos, temos o Museu da Aviação Naval, em São Pedro da Aldeia (RJ), o Museu de Bebedouro (SP) e o Memorial da FAB na Amazônia, em Belém (PA). Ainda podemos citar o Memorial Aeroespacial Brasileiro, em São José dos Campos (SP), onde também estão os protótipos do carro a álcool e da urna eletrônica, ambos desenvolvidos em parceria com os órgãos de ciência e tecnologia da FAB.

 

 

A volta

Na volta, com a aeronave mais vazia, já que parte dos passageiros ficou em São Carlos para iniciar a operação, os céus já não estavam mais tão agradáveis. Nada a ver com o sentimento de felicidade em ver a história sendo resgatada e preservada, mas as fortes chuvas sobre a região metropolitana de São Paulo nos levaram a voar em espera até conseguirmos nos aproximar para o pouso.

Esse passo dado recentemente foi mais um pequeno à frente do que o futuro guarda. O MAPA promete ser um novo marco na aviação brasileira e um destino obrigatório para quem sonha com o céu.