NOTIMP - NOTICIÁRIO DA IMPRENSA

Capa Notimp Acompanhe aqui o Noticiário relativo ao Comando da Aeronáutica veiculado nos principais órgãos de comunicação do Brasil e até do mundo. O NOTIMP apresenta matérias de interesse do Comando da Aeronáutica, extraídas diretamente dos principais jornais e revistas publicados no país.


JORNAL FOLHA DE SÃO PAULO


Comandante do Exército vê crescer importância da intervenção após crime

General Villas Boas afirmou que ação militar teve pouca visibilidade até aqui

Fabiano Maisonnave | Publicada 16/03/18 - 22h22

O comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, afirmou nesta sexta-feira (16) que o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ), na noite de quarta-feira (14), reforça a necessidade da intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro, decretada há um mês.

"O assassinato aumenta a importância da intervenção”, disse Villas Bôas, durante evento militar em Manaus, ao ser questionado pela Folha sobre o impacto do crime na intervenção.

"Esse crime é mais um de tantos milhares que afetam o dia a dia da população. Portanto é um trabalho extremamente detalhado. Tem de ser amplo, profundo e de longo tempo para nós recuperarmos a percepção de segurança de que a população brasileira precisa”, completou.

Veja o que já se sabe sobre o assassinato da vereadora Marielle

Sobre o primeiro mês da intervenção, Villas Bôas afirmou disse que a atuação militar teve pouca visibilidade até agora: “Os problemas, pela sua profundidade, exigem estudos e planejamento detalhado. Mas acreditamos que, agora, no prosseguimento, os resultados começarão a surgir.”

Villas Bôas esteve na capital do Amazonas para participar de troca na chefia do Comando Militar da Amazônia. Após dois anos, o general Geraldo Antonio Miotto passou o cargo para o colega César Augusto Nardi de Souza.

CRIME
O assassinato da vereadora Marielle Franco, 38, ocorreu dois dias antes de a intervenção federal na segurança pública do estado completar um mês. A medida, inédita, foi anunciada pelo presidente Michel Temer (MDB) em 16 de fevereiro, com o apoio do governador Luiz Fernando Pezão, também do MDB.

Temer nomeou como interventor o general do Exército Walter Braga Netto. Ele, na prática, é o chefe dos forças de segurança do Estado, como se acumulasse a Secretaria da Segurança Pública e a de Administração Penitenciária, com PM, Civil, bombeiros e agentes carcerários sob o seu comando.

O Rio de Janeiro passa por uma grave crise política e econômica, com reflexos diretos na segurança pública. Desde junho de 2016, o Estado está em situação de calamidade pública e conta com o auxílio das Forças Armadas desde setembro do ano passado.

Não há recursos para pagar servidores e para contratar PMs aprovados em concurso. Policiais trabalham com armamento obsoleto e sem combustível para o carro das corporações. Faltam equipamentos como coletes e munição.

OUTROS FATOS

1. Tiros
Foram encontradas no local nove cápsulas de calibre 9 milímetros, de uso restrito das forças de segurança; no total foram disparados 13 tiros, mas quatro deles não atingiram o carro

2. Munição
As cápsulas pertencem ao lote UZZ-18, comprado em dez.2006 pela PF de uma empresa privada; é o mesmo lote da munição usada na chacina de Osasco e Barueri (Grande SP), em 2015

3. Vídeo
Câmeras registraram dois homens dentro de um carro estacionado por duas horas em frente ao local onde Marielle participava do debate; os suspeitos foram vistos falando ao celular

4. Carros
Quando ela sai do evento, esse veículo faz sinais com o farol a um segundo veículo, e ambos deixam o local atrás do carro dela; um desses carros teve a placa adulterada, segundo a polícia

A falta de estrutura atinge em cheio o moral da tropa policial e torna os agentes vítimas da criminalidade. Somente no ano passado 134 policiais militares foram assassinados no estado --neste ano já são 26.

Policiais, porém, também estão matando mais. Após uma queda de 2007 a 2013, o número de homicídios decorrentes de oposição à intervenção policial está de volta a patamares anteriores à gestão de José Mariano Beltrame na Secretaria de Segurança (2007-2016).

Em 2017, 1.124 pessoas foram mortas pela polícia. Em meio à crise, a política de Unidades de Polícia Pacificadora ruiu –estudo da PM cita 13 confrontos em áreas com UPP em 2011, contra 1.555 em 2016. Nesse vácuo, o número de confrontos entre grupos criminosos aumentou.

Apesar da escalada de violência no Rio, que atingiu uma taxa de mortes violentas de 40 por 100 mil habitantes no ano passado, há outros Estados com patamares ainda piores. No Atlas da Violência 2017, com dados até 2015, Rio tinha taxa de 30,6 homicídios para cada 100 mil habitantes, contra 58,1 de Sergipe, 52,3 de Alagoas e 46,7 do Ceará, por exemplo.
 

Quem matou, quem mandou?

Assassinato de Marielle é atentado político sem igual na história recente do Brasil

Alvaro Costa E Silva | Publicada 17/03/18 - 02h00

Na última terça (13), durante um encontro na Associação Comercial de São Paulo, Michel Temer revelou a intenção de acabar com a intervenção na segurança do Rio em setembro —pelo decreto, os militares permanecem até o fim deste ano. Diante de empresários, o presidente voltou a tocar na sua flor de obsessão —a reforma da Previdência— e se vangloriou: “Não é improvável que as coisas estejam entrando nos eixos no Rio”.

No dia seguinte a vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes foram assassinados. Enquanto Temer considerava que seu “golpe de mestre” já havia produzido o resultado de marketing desejado, Marielle levava quatro tiros na cabeça. Uma execução, um atentado político cuja gravidade não tem rival na história recente do Brasil.

Horas antes, a vereadora debatia sobre o crescimento de crimes contra mulheres negras —como ela. Na Câmara e nas redes sociais, denunciava o homicídio de jovens pela Polícia Militar e o clima de terror nas favelas dominadas pelo tráfico e pelas milícias. O modo como Marielle foi assassinada —não houve sequer a tentativa de mascarar a premeditação— é um sinal de que atravessamos a linha no campo da violência, cada vez mais institucionalizada. Foi um recado claro: não mexam com a gente. Ninguém está a salvo.

A resposta foi dada nas ruas, não só na Cinelândia e em frente à Assembleia Legislativa —entupidas de gente— como em outras capitais do país e do exterior. Pacificamente. Há muito não se via uma manifestação tão grande de solidariedade e protesto, e, de maneira simbólica, sem a presença da PM ou de mascarados.

Temer cancelou a viagem que faria ao Rio, neste domingo (18), para trombetear as conquistas do primeiro mês de intervenção. “Não matarão nosso futuro”, garantiu. O primeiro passo é achar quem matou e quem mandou matar Marielle.
 

JORNAL O GLOBO


Intervenção completa um mês e verba prometida por Temer ainda não saiu

Governo alega que área econômica ainda está estudando um remanejamento

Rodrigo Taves, Alexandre F, Paulo Pereira, Martha | Publicado em 16/03 - 18:17

RIO E BRASÍLIA — O assassinato da vereadora Marielle Franco aumentou a pressão sobre o governo por resultados na segurança pública, mas a intervenção federal no Rio, que completa um mês hoje, ainda não recebeu verbas federais e nem sequer tem orçamento definido. O presidente Michel Temer, que foi um dos primeiros a gravar pronunciamento sobre o crime, se comprometeu com o interventor Braga Netto e o ministro Raul Jungmann (Segurança Pública) a repassar recursos para a intervenção e a segurança pública. Desde então, nada aconteceu. 

Oficialmente, a informação é que a área econômica do governo ainda está estudando um remanejamento de verbas entre áreas do governo. Enquanto isso, de acordo com dados da organização Fogo Cruzado, ocorreram 149 homicídios no Rio desde o início da intervenção. Jungmann se reuniu semana passada com o interventor para discutir as verbas necessárias à operação no Rio. Depois, admitiu à imprensa que o dinheiro ainda vai demorar a sair.

Jungmann tem afirmado que o problema será resolvido, até porque o novo Ministério da Segurança Pública, criado há quase 20 dias, não pode ficar sem orçamento. Neste período, porém, a pressão que ele vem sofrendo por verbas federais só aumentou.

Nesta quinta-feira, os secretários estaduais de Segurança Pública divulgaram um ofício endereçado ao ministro em que cobram recursos para o setor. Reunidos em Brasília, eles fizeram diversas queixas ao secretário nacional de Segurança Pública, general Santos Cruz, inclusive de deficiências da Polícia Federal na vigilância das fronteiras do país por falta de verbas e por diminuição do efetivo. Segundo os secretários, a PF perdeu 3 mil homens os últimos dez anos e não houve reposição.

"NÃO CONTO COM RECEITA FEDERAL"

O interventor no Rio, general Braga Netto, foi indagado na quarta-feira, em encontro com procuradores do Estado, sobre a possibilidade de contratar mais policiais para o patrulhamento das ruas e também reclamou da falta de recursos.

— Eu não posso pagar salários nem fazer concurso, quem faz isso é o governo do estado. O governador está contando com a receita federal, que até agora não veio — explicou.

Procurado, o governador Luiz Fernando Pezão admitiu não ter solicitado formalmente novos recursos para a polícia, mas negou que o problema da insegurança seja este. Segundo ele, o Rio dispõe de um dos maiores contingentes de policiais do país, que seria o dobro per capita de São Paulo.

— Eu não tô contando com receita federal, eu conto com minha receita, to me programando. Quem está comprando mais de 800 carros somos nós. Se tiver mais recursos, ótimo — explicou ao GLOBO o governador.

A previsão era que Pezão e Braga Netto tivessem uma reunião na próxima segunda-feira, quando conversariam sobre a necessidade de mais recursos.

— Não pedi (recursos) porque quem tem que pedir é ele (Braga Netto). Posso pedir uma porção de coisas, mas via empréstimo eu não vou pedir. Você acha que o Meirelles vai dar dinheiro para alguém? Se bastar solicitar, eu peço rápido.

Técnicos do governo federal esperam que a quantia solicitada pelo interventor seja baixa, com pouco impacto sobre as contas públicas. Isso porque o dinheiro servirá para custear principalmente despesas com combustíveis para veículos, diárias e passagens de militares que foram deslocados para o Rio por causa da intervenção. O montante ficaria em torno de R$ 50 milhões.

De acordo com o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, não estão previstos novos recursos para o estado do Rio.

— Qualquer destinação de recursos nova terá de haver uma diminuição exatamente igual de recursos em alguma outra área. Não é só o Rio, é geral, para qualquer coisa. Tem que diminuir de alguma área do governo, porque o orçamento está fechado. O Rio de Janeiro está dentro de um plano de recuperação fiscal. Esse é o plano que vai resolver o problema do Rio. No total são R$ 20 bilhões, que envolvem uma moratória da dívida, novos empréstimos, redução de subsídios, de despesas tem uma série de coisas. Isto é que está gerando recursos para o Rio de Janeiro e para as forças de segurança.

Para Meirelles, uma possibilidade de envio de mais dinheiro seria no caso de convocação de forças militares de outros estados para a intervenção.

— Se entrar tropa federal precisa ver se o que o Exército tem no orçamento é suficiente ou se vai precisar de recurso adicional. O general Braga Netto e o ministro da Defesa estão vendo o que é necessário.

O que terá maior impacto sobre o Orçamento do governo serão os recursos que precisam ser destinados para o Ministério Extraordinário da Segurança Pública, que acaba de ser criado. A verba deveria ter sido discutida nesta quarta-feira num encontro entre o ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, e o ministro da Segurança, Raul Jungmann. No entanto, a reunião acabou sendo adiada.

O impacto da nova pasta sobre o Orçamento de 2018 será um dos itens de despesa que serão analisados pela equipe econômica na hora de definir o montante de gastos que serão desbloqueados até o final de março. Como a arrecadação de janeiro e fevereiro veio muito acima do esperado, pelo menos R$ 10 bilhões, a área econômica decidiu liberar uma parte dos R$ 16,2 bilhões que foram represados em fevereiro. No entanto, as despesas com o Ministério Extraordinário pesarão na conta.

 

PORTAL UOL


Execução de Marielle mata a “sensação de segurança” prometida por Temer


Leonardo Sakamoto | Publicado em 16/03 - 13:39h

Logo após a intervenção federal ocupar a área de segurança pública no Rio de Janeiro, o escolhido por Michel Temer para a função, general Walter Braga Netto, afirmou que seria tomada uma série de providências para que a população percebesse a "sensação de segurança".

O problema é que ele não disse qual parte da população seria destinatária desse benefício.

Medidas tomadas pela intervenção que violaram direitos, como o registro fotográfico obrigatório dos moradores pobres que desejassem sair de uma comunidade, indicavam que o naco da cidade do qual falava o general era a sua parte "cartão postal".

O ministro da Justiça, Torquato Jardim, também reforçou a percepção ao dar declarações mostrando que vê moradores de bairros pobres como combatentes inimigos. "Tem 1,1 milhão de cariocas morando em zonas de favelas, de perigo. Desse 1,1 milhão, como saber quem é do seu time e quem é contra? Você vê uma criança bonitinha, de 12 anos de idade, entrando em uma escola pública, não sabe o que ela vai fazer depois da escola".

Mas se é difícil garantir que mesmo a população mais rica se sinta segura com a presença das Forças Armadas, a execução de uma vereadora negra, representante política de uma comunidade pobre do Rio, ocorrida em uma região central e movimentada da cidade, debaixo das barbas da intervenção federal, deixa claro quem não são os beneficiários da Pax Temerista.

Porque uma das conclusões que se tira do assassinato de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes é de que se você for pobre, negro e favelado vai continuar morrendo caso se meta a besta. Afinal, se mataram a quinta vereadora mais votada, imagine o que pode acontecer com quem não tem a mesma visibilidade.

Apenas uma investigação séria, transparente e célere poderá apontar os culpados, até lá tudo é especulação. Mas, como disse aqui, já é possível afirmar que o Estado é cúmplice por permitir que isso tenha acontecido. O poder público por incompetência ou má fé, não garante "sensação de segurança", mas "certeza de impunidade". Ainda mais se o ataque tenha sido cometido contra pessoas negras de um local pobre.

O assassinato de lideranças sociais pode ter diferentes efeitos em seus movimentos. Quando elas são largamente conhecidas dentro e/ou fora do país, as ondas de choque impulsionadas pela comoção pública podem levar à solução do crime e mesmo ao surgimento ou fortalecimento de novas lideranças. Em alguns raros casos até a solução do problema contra o qual lutavam. Quando são nomes pouco conhecidos, de comunidades desconectadas de redes de atuação fortes, um assassinato tende a apavorar os que ficam, desmobilizando. O primeiro caso é menos comum que o segundo, infelizmente, principalmente, na região rural do país.

A ação de Michel Temer, como denunciava a própria Marielle Franco, que seria a relatora da intervenção na Câmara dos Vereadores, tem caráter midiático, marqueteiro e eleitoreiro. Sem planejamento algum, usa a credibilidade das Forças Armadas como boia de salvação de sua popularidade naufragante.

Caso a investigação não apontar culpados ou for pouco transparente ou ainda acabar por envolver agentes públicos estaduais ou federais, a intervenção – que chegou a ser chamada de uma solução brilhante para os problemas de popularidade do presidente, levando-o a cogitar a disputa pelo Palácio do Planalto – se transformará no fim deste governo morimbundo. Que, no intuito de autopreservação, vai acabar levando o país junto com ele.

 

JORNAL CORREIO BRAZILIENSE


"Foi uma execução. E nada justifica," afirma Etchegoyen sobre Marielle


Leonardo Cavalcanti E Paulo De Tarso Lyra | Publicado em 17/03 - 08h

Ministro-chefe do GSI diz que a polícia deve trabalhar com todas as possibilidades para chegar aos autores do crime contra a vereadora Marielle Franco. Para ele, a intervenção federal no Rio de Janeiro foi a opção que restou para controlar a violência no estado.

Dois dias depois do assassinato da vereadora do PSol-RJ Marielle Franco, o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Sérgio Etchegoyen, é taxativo: foi uma execução. Em entrevista exclusiva ao Correio, um dos homens fortes do governo Michel Temer e mentor da intervenção na segurança pública do Rio de Janeiro vai além, apontando para camadas reacionárias que minimizaram o episódio. “Tenha sido ela mais ou menos agressiva, aguerrida, não interessa. Não há nada que justifique a execução, ela tinha a idade das minhas filhas”, resumiu.

O general, de 66 anos, assessor direto de Temer nas questões de segurança, afirma que o delegado responsável pela investigação precisa colocar à mesa todas as opções possíveis, sem descartar nada. A única convicção de Etchegoyen é que é uma loucura achar que o assassinato foi realizado para enfraquecer a ação das forças de segurança no Rio. “(Era) uma vereadora contra a intervenção. Estamos fazendo política rasteira em cima de um cadáver trágico. Eu achava que haveria uma reação à intervenção. A reação que eu estava imaginando era mais confronto entre facções, porque, quando você intervém, reduz o espaço dessa gente”, justificou.

Etchegoyen também não hesita em defender a atuação no segundo maior estado do país. “Eu vejo a intervenção como o que sobrou. O governo se envolveu lá atrás, investiu dinheiro, decretou a garantia da lei e da ordem e liga a televisão durante o carnaval, e acontece o que aconteceu? Quem estava cuidando do Rio de Janeiro?”, questionou com a habilidade, inclusive, para escapar das críticas de açodamento. “Em qualquer tempo, nós teríamos dificuldade. Se nós parássemos para planejar isso um mês depois, seria mais um mês perdido. Na consideração política, o tempo é uma variável”. Veja a seguir os principais trechos da entrevista:

O crime contra a vereadora tem todas as características de execução...

Não tem todas as características, foi uma execução. As razões para aquela execução, eu acho que não é prudente abandonar nenhuma. Eu, se fosse o delegado, deixaria todas em cima da mesa e iria afastando. Isso aconteceu há dois dias, com que velocidade anda a polícia técnica, os exames balísticos, a verificação de todas as câmeras? Tem que ouvir gente. Discorde-se ou se concorde, a moça tem a idade das minhas filhas. Tenha sido ela mais ou menos agressiva, aguerrida, não interessa, não há nada que justifique a execução. Não há nada que justifique que a execução de um adversário é uma opção presente no campo político. O que justifica no jogo político em um país sadio utilizar a execução? Porque compensa. Vamos imaginar a prisão dos assassinos neste momento, agora. O que vai acontecer? Eles vão ser presos preventivamente, vai se discutir quanto tempo essa prisão vai levar, vai haver uma investigação e eles vão ser julgados. Quando? Daqui a um ano e pouco, dois anos, vamos imaginar que ande rápido pelo clamor, mas eles continuam soltos, aí vão para a segunda instância, tem mais um período para caminhar. Vai se discutir se na segunda instância podem ser presos ou não, vamos para a terceira instância e vai até o trânsito em julgado, lá na frente. Quando chegar ao trânsito julgado, cinco ou seis anos, não sei ser otimista, nem pessimista, mesmo porque não sou advogado. Eles foram condenados a 30 anos, o máximo, vão cumprir 1/6 da pena e aí começa a progressão, eles vão cumprir cinco anos. Se tiver biblioteca vai reduzir mais um pouquinho e vão cumprir três anos. É com isso que nós estamos lidando.

O senhor está dizendo que esse ato vale a pena.

91,5% dos casos não são descobertos. O dela, pelo clamor, as pessoas que dependiam do trabalho dela certamente vão ajudar, tem o disque denúncia. Eu sou otimista, acho que se chega aos pervertidos, em quem fez isso. Pega um cidadão que coloca essa opção de execução de alguém como uma opção disponível, essa pessoa que acha que é uma coisa da vida dela, botar um fuzil, seguir alguém e fazer a execução que fez. Tente se colocar nessa situação, uma pessoa que é capaz de fazer um negócio desse, qual a expectativa de vida que ela tem? Será que não tem consciência que, com o tipo de vida que leva, daqui a pouco é a vez dela? Eu imagino que quem está em uma vida dessa, a qualquer momento… O cara olha para o horizonte dele, lá na frente vai pegar cinco anos de cadeia na pior hipótese.

No meio político começou a circular uma versão de que a inteligência trabalha com a possibilidade de o assassinato ser uma reação à intervenção...

Se isso fosse verdade, teríamos a inteligência mais burra do mundo. Não é possível, uma burrice monumental. Dois dias depois, sabemos a linha. Matou-se uma adversária da intervenção para protestar contra a intervenção? Mataram uma menina que tinha uma atuação política que incomodava muita gente e podia incomodar ao máximo, nada justificava uma torpeza dessa. Tem um lado muito triste, nós estamos fazendo política rasteira em cima de um cadáver trágico. Eu achava que haveria uma reação à intervenção. Mas não isso.

E qual seria essa reação?

A reação que eu estava imaginando era mais confronto, porque, quando você intervém, reduz o espaço dessa gente. O problema do Rio é que é o único lugar do mundo que o domínio de uma atividade criminosa implica no domínio de um território. Por isso tem fuzil lá porque é com fuzil que se detém território, não é com pistola. O fato de o Rio de Janeiro ter essa característica, e coloca uma intervenção, a polícia para subir o morro, bota as Forças Armadas para cercar o morro, começa a reduzir o espaço. Desde o ano passado, a gente, o governo, vem fazendo operação em círculos externos do Rio de Janeiro, da linha imaginária. Assunção, Santa cruz, Lima, Bogotá. Esse circo externo, eles negaram muita logística. Vou dar um dado para vocês. Vou pegar o exemplo da Amazônia. Em 2016, foram aprendidos na ordem de 6 toneladas de droga. Em 2017, 22 toneladas. Em janeiro de 2018, 8 toneladas, porque nós aumentamos a pressão na fronteira. Essa droga produz dinheiro, que vai produzir arma. Foram apreendidas mais de 700 armas. Mais de 100 mil cartuchos de munição, mais de cento e tantas toneladas de maconha e de cocaína. O Rio de Janeiro está ficando asfixiado, e com a presença policial, agora, mais dura.

Qual a reação que o senhor imaginava?

Um choque entre as facções. Ou elas vão se unir, ou disputar, ou virá apoio de fora. E aí, você já deve ter ouvido a história do PCC chegando ao Rio de Janeiro. Muito mais organizado que o Comando Vermelho. O PCC é uma estrutura departamental clássica. O comando vermelho é mais uma confederação. Enfim, imaginava-se que podia haver esse choque.

As regras sobre a atuação nos morros mudarão?

Tem que haver essa mudança na legislação e acho que está andando. O congresso elegeu um pacote que é chamado Pacote de Segurança Pública coordenado pelo Alexandre Moraes, do STF, e ele está andando.

Do ponto de vista do serviço de inteligência, a intervenção é viável?

Eu vejo a intervenção como aquilo que sobrou. Como a gente atua na intervenção? A Agência Brasileira de Inteligência é o órgão central do sistema brasileiro de inteligência. É o órgão que tem que integrar todas as inteligências que trabalham, e são muitas, 32, em benefício, nesse caso específico, da intervenção. Quais são as inteligências? Policial, , ANTT, Defesa, polícia estadual, Polícia Federal, toda essa estrutura é integrada pela Abin.

A Abin coordena?

A Abin responde à orientação que recebe. A competência, do ponto de vista do conhecimento, está lá. Esse é o papel que a gente desempenha na intervenção. É um fato administrativo, e isso tem sido pouco compreendido, não quer dizer que a culpa é de quem não compreendeu, às vezes, a culpa é de quem está falando. A intervenção é um ato administrativo, chegaram ao Rio, tiraram a fatia de poder correspondente à polícia, segurança pública e administração penitenciária e nomearam um governador. De fato, tem dois governadores, um que governa tudo, menos isso, e outro que governa segurança pública e administração penitenciária, é muita coisa. Esse governador do Rio de Janeiro não recebeu nenhum poder extraordinário, não recebeu nada além do que está na Constituição do Estado que diz respeito a isso. As Forças Armadas não receberam mais competência do que têm com a garantia da Lei e da Ordem, que foi contínua desde julho do ano passado. A Polícia Militar e a Civil continuam com suas competências preservadas e fazem o trabalho delas. O problema todo era gestão, credibilidade de um sistema de gestão, de modelo. Existem problemas nas polícias do Rio? Óbvio, mas voltamos à questão da gestão, como lidar com eles. Aí você coloca um interventor que não tem compromisso nenhum com a próxima eleição nem com partido nenhum. Se o presidente coloca na intervenção do Rio de Janeiro a dona Maria ou seu João, alguém vai se lembrar que eles tinham uma ligação com o deputado fulano, vereador sicrano. Num momento extremamente complicado que estamos vivendo, tem que colocar alguém crivelmente neutro. O problema do Rio, o que aconteceu no carnaval, o gatilho que disparou a intervenção, foi a não foto, não filme. O governo vem investindo, desde muito no Rio, o que não tinha para investir.

Como assim?

Foi a primeira vez que o governo se envolveu, investiu dinheiro, colocou meios, decretou a garantia da lei e da ordem, colocou uma coisa tão longa trabalhando nisso em cima da garantia da ordem lei e da ordem que é desgastante, trabalhosa. E aí, liga a televisão durante o carnaval, e acontece o que aconteceu. Tinha claramente um vazio. Quem está cuidando do Rio? Será que é o primeiro ano que teve carnaval? Não era previsível que fôssemos ter problemas no carnaval?

Não foi muito rápida essa decisão, como no improviso?

Eu acho que o tempo é uma decisão política. Eu não sei responder sobre a decisão política do Temer. Em qualquer tempo, teríamos dificuldade. Se nós parássemos para planejar isso um mês depois, seria mais um mês perdido. Na consideração política, o tempo é uma variável.

Em cima da banda podre das polícias e das milícias, não deveria ter sido uma ação efetiva no primeiro momento?

Por que não é? Eu não vi publicado, também não ouvi, mas não tenho dúvida de que estão tratando. No segundo dia da intervenção foram presos um agente penitenciário, um delegado da Polícia Civil e cinco policiais ligados ao crime organizado. A primeira coisa que fizeram foi mudar os comandos. As figuras que foram colocadas ali, toda a sociedade aprovou, tem uma mensagem muito clara, não estou comparando com os outros. Aqui existem pessoas de conduta irretocável, aprovadas pela sociedade, por diversas organizações civis, esse é um grande recado. Agora, você pode decretar um ato institucional número 1, sair caçando todo mundo ou vai produzir investigação, dar o direito contraditório de defesa, fazer um devido processo legal e tomar as providências?

Nesse processo, avançou-se em relação às corregedorias, por exemplo?

As corregedorias foram contratadas com o governo do Rio. Em janeiro, assinou o memorando de entendimento e o item número 1 era a criação de corregedorias, autônomas, mais independentes. A corregedoria da PM está na PM, a corregedoria da Polícia Civil está na Polícia Civil e tinha a terceira corregedoria na Secretaria de Segurança Pública. Lá atrás, antes da intervenção federal, foi acertado com o governador do estado que essas corregedorias seriam autônomas e independentes. Já tem um compromisso do estado para fazer isso.