AEROVISÃO

ITA desenvolve tecnologias que melhoram a qualidade de vida dos pacientes

Como seria a vida de uma pessoa com deficiência se a sua cadeira de rodas fosse capaz de subir escadas? E quanto evoluiria a medicina se novos materiais diminuíssem a chance de rejeição do organismo? Essas questões também envolvem o ITA
Publicada em: 22/04/2016 08:00
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Fonte: Agência Força Aérea, por Ten Jussara Peccini

  Cadeira de rodas que permite subir escadas, luvas que interpretam linguagem de Libras, tecnologias de tráfego aéreo usadas para ajustar ao corpo fixadores externos controlados automaticamente. Essas inovações são alguns dos projetos recentemente criados por alunos e professores do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). Com potencial para desenvolver soluções que resultem em qualidade de vida para pessoas em tratamento de saúde, o ITA decidiu apoiar a criação de um laboratório de bioengenharia. Ainda em gestação, o espaço deve catalisar as iniciativas de alunos e professores que utilizam os recursos da engenharia para a área médica.

“Na bioengenharia, o aluno consegue ver um resultado social muito prático. Essa geração tem muita vontade de fazer diferença no mundo”, afirma o reitor do ITA, Anderson Correia. O espaço deve aproximar engenheiros e médicos com o objetivo de encontrar soluções úteis e de baixo custo.

Antes de o laboratório se concretizar, porém, as pesquisas já estão acontecendo. Duas das criações devem resultar em novas patentes para o Brasil: a criação de um material que tem menor rejeição do organismo e o desenvolvimento de um detector de corpo retido.

Capitaneado pela doutoranda em física, Elisa Cazalini, e pelo seu orientador, professor Marcos Massi, a tecnologia de aplicações de processos a plasma, já utilizada em vários segmentos da medicina, é o caminho encontrado pela estudante para reduzir as chances de infecção em pacientes que precisam implantar telas de polipropileno para reforçar a parede abdominal em cirurgias de hérnia, por exemplo. A novidade é a aplicação do plasma nesse material, modificando sua superfície para que tenha maior compatibilidade com o organismo, utilizando materiais como prata ou carbono. A prata impede a propagação de agentes infecciosos, como fungos e bactérias. Já o carbono é conhecido por ser biocompatível, facilitando o crescimento das células sobre a tela implantada no período pós-cirúrgico.

De acordo com a pesquisadora, há telas com polímeros diferentes. Algumas, cujo custo pode chegar a R$ 2 mil, usam polímeros absorvíveis pelo corpo. No entanto, o material mais comum usado, principalmente na rede pública de saúde, é mais simples. “Ao ser implantado no organismo humano, pode haver reação inflamatória, pois se trata de um corpo estranho. Há risco de rejeição e infecção se tiver algum foco no momento da cirurgia”, explica. É recorrente o fato de ter que retirar a tela e recolocar outra nova. Tem complicações, especialmente em pacientes com baixa imunidade, como diabéticos e idosos.

Uma coincidência pessoal reforçou a convicção de Elisa na busca pelos resultados. Logo depois de defender o mestrado onde explicava a técnica, sua tia, que tinha menos de 50 anos, faleceu. A morte foi consequência de uma infecção pós-cirúrgica causada por uma tela usada para levantar a bexiga. “Na época, eu pensei: se esse produto já estivesse pronto, talvez essa situação não tivesse ocorrido”, relata a pesquisadora, que, para chegar a dosagens e exposições ideais, passou semanas em uma rotina que ia das 7h às 19h testando telas no reator. Cada teste requer pelo menos uma hora de preparação do equipamento.

Sensores usados em equipamentos espaciais também servem à medicina  - Como detectar instrumentos ou insumos cirúrgicos esquecidos dentro de um paciente? Quem apresentou o problema ao professor Osamu Saotome, engenheiro eletrônico do ITA, foi o Major-Brigadeiro José Elias Matieli, que é coorientador de Elisa. O militar, que é cirurgião e tem no currículo a administração de um hospital da FAB e atuou como diretor de saúde da Aeronáutica, conhece bem os problemas da saúde pública. “Durante 20 anos, todos os sábados eu estava no plantão no hospital do Rio de Janeiro e já vi de tudo”, relata o médico.

Nascido no Japão e naturalizado brasileiro, Osamu tem larga experiência na área de eletrônica. Na área de sensores, já desenvolveu produtos que detectam automaticamente o número de eixos de caminhões em pedágios e produtos metálicos em alimentos industrializados.

Osamu buscou em sensores usados no espaço, para fazer pequenas correções de rota em satélites, a sensibilidade necessária para o ‘detector de objetos retidos’, como foi batizado inicialmente o protótipo. “Muitos trabalhos desenvolvidos para o espaço acabam servindo para problemas terrestres”, explica. A ação do produto é basicamente percorrer a área da cirurgia antes de fechar a incisão. O procedimento reduziria significativamente problemas legais e éticos para profissionais e instituições de saúde. Pelo menos três empresas já procuraram a equipe interessadas em produzir comercialmente o equipamento.

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