PÁSCOA

A fé fardada

A Força Aérea Brasileira conta com um efetivo total de 45 capelães, sendo 38 católicos e 7 protestantes
Publicada em: 02/04/2015 16:19
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Fonte: Agência Força Aérea

  Garantir a prestação de auxílios espirituais, de modo estável e permanente, aos militares das Forças Armadas. Esse foi o principal objetivo das capelanias militares. Atualmente a Força Aérea Brasileira conta com um efetivo total de 45 capelães, sendo 38 católicos e 7 protestantes.

“Não há dúvidas que a assistência religiosa é importante. Os valores constitutivos do ideal das nossas Forças são valores que encontram apoio e fundamentos também nos valores religiosos. As Forças Armadas são chamadas, muitas vezes, a viver uma dura realidade e várias tensões humanas e profissionais. E, independente da confissão religiosa, a assistência é importante como apoio, até mesmo psicológico”, revela o Arcebispo Militar do Brasil, Dom Fernando José Monteiro Guimarães.

Com o acordo diplomático celebrado em outubro de 1989, foi criado o Ordinariado Militar do Brasil, que organiza e coordena os serviços de todas as capelanias militares católicas do País, além de prestar assessoria ao Ministério da Defesa nos assuntos relativos à assistência religiosa dentro das Forças Armadas e Auxiliares.

O Arcebispo é equiparado a um Oficial-General de três estrelas. “Não é uma questão de prestigio pessoal, nem mesmo de honras militares. Poder dialogar de igual para igual com os comandantes me permite perceber a realidade das Forças, sentir as necessidades. Isso fortalece a capelania à medida que a troca de informações nos dá a visão de como podemos servir melhor às Forças Armadas e Auxiliares”, afirma Dom Fernando, que foi designado pelo Papa Francisco para assumir o Ordinariado no Brasil em outubro de 2014.

  O Arcebispo é responsável por toda a capelania militar católica no Brasil, incluindo os contingentes brasileiros que atuam nas missões de Paz no Haiti e no Líbano. A diocese militar dirigida por Dom Fernando também abrange as adidâncias brasileiras no exterior e a base militar na Antártica. Ao todo, são 162 capelães católicos no Brasil.

Apesar da recente nomeação, o Arcebispo, que antes nunca havia trabalhado oficialmente com Organizações Militares, já realizou atividades de capelania junto aos militares do Exército que trabalharam na Favela da Maré no Rio de Janeiro, em dezembro de 2013. Ele faz um balanço positivo do período e compara a profissão militar com a vida dos religiosos. “Não é a toa que a vida militar é comparada a um sacerdócio. Temos pontos em comum. É uma vida de doação até o sacrifício da própria vida. É uma profissão que vai além do simples cumprimento do horário de trabalho. Envolve a pessoa em muito mais coisas e isso vale para o militar e para o capelão”, compara.

Segundo o Chefe do Serviço de Assistência Religiosa da Aeronáutica, Coronel Capelão Francisco Maria de Castro Moreira, oferecer dentro dos quartéis o apoio religioso é fundamental. “As atividades militares são intensas e consomem o dia a dia desses profissionais, que, às vezes, durante sua rotina não dispõe de tempo para se dedicar a religião. Ter a presença de capelães dentro das Forças ajuda a aproximar as pessoas de sua fé”, comenta o Coronel.

Cresce participação da capelania evangélica

Há três anos, o Tenente Capelão Evangélico Luciano Pereira Prestes ingressou para o quadro de oficiais da FAB por meio da capelania militar. “Desde os 17 anos admiro a Força Aérea Brasileira. Alistei-me para servir à Aeronáutica em Porto Velho (RO), mas não consegui entrar. Sempre fui muito envolvido com as atividades de minha igreja e fiz o curso de Bacharel em Teologia e depois mestrado, também em Teologia. Foi durante esse período que um amigo me falou a respeito da Capelania Militar Evangélica. Busquei várias informações e comecei os estudos. Mal pude acreditar que poderia servir a Deus com minha vocação dentro de uma Corporação Militar, na condição de capelão. Foi a junção de duas vocações”, conta o oficial da FAB, que atualmente serve no Primeiro Comando Aéreo Regional (I COMAR), em Belém (PA).

A capelania militar protestante no Brasil conta com um quadro de 67 pastores. Os assuntos relativos ao atendimento religioso e espiritual dos fiéis evangélicos das Organizações Militares são coordenados pela Aliança Pró Capelania Militar Evangélica do Brasil (ACMEB), localizada em Brasília. A associação é membro da Comissão dos Serviços de Assistência Religiosa das Forças Armadas (COSARFA), do Ministério da Defesa.

Segundo o Tenente Capelão Prestes, uma das principais diferenças entre os pastores civis e militares está na abrangência das denominações evangélicas do efetivo. “O pastor civil cuida de um grupo de fiéis de uma denominação evangélica específica. Já o pastor militar exerce suas atividades em relação a dois públicos. Primeiro o público protestante - formado por fieis evangélicos, representantes de diversas denominações do segmento evangélico. O segundo público assistido pelo capelão militar é formado pelos demais membros da corporação, independentemente da confissão religiosa ou filosófica”, explica.

  Treinamento militar

Todo o ano a FAB realiza um censo religioso (leia na página ao lado). De acordo com os dados levantados, são abertas as vagas para o ingresso de capelães militares por meio de concurso público. Podem concorrer às vagas, conforme os últimos editais, sacerdotes católicos apostólicos romanos, do sexo masculino, e pastores evangélicos, de ambos os sexos, e que possuam, pelo menos, três anos de atividades pastorais. Além disso, é preciso ter formação teológica regular de nível universitário, reconhecido pela autoridade eclesiástica competente.

Os candidatos passam por um processo seletivo que inclui avaliação do Ordinariado Militar do Brasil; provas escritas; inspeção de saúde; exame de aptidão psicológica; teste de avaliação do condicionamento físico; e validação documental.
Após aprovado, o padre ou pastor passa pelo Estágio de Instrução e Adaptação para Capelães da Aeronáutica (EIAC). O curso é ministrado no Centro de Instrução e Adaptação da Aeronáutica, em Belo Horizonte (MG), e abrange instruções nos campos geral, militar e técnico-especializado.

Antes do acordo diplomático entre o Brasil e a Santa Sé, os capelães católicos eram subordinados ao Arcebispo do Distrito Federal, que acumulava a função de vigário castrense. Mas, uma nova regulamentação instituída pelo Papa João Paulo II determinou a criação de dioceses e arquidioceses militares independentes em todo o mundo, com a autonomia e vinculadas diretamente ao Pontífice. Foi quando surgiu a figura do Arcebispo Militar, responsável por dirigir o Ordinariado Militar. O religioso é nomeado pelo Papa para assumir o cargo e, no Brasil, o governo federal é quem aprova a indicação.

Dentre as atividades previstas para a capelania estão visitar os enfermos e os presos; assessorar o comandante da unidade no trato de questões de natureza moral, ética e religiosa; promover o fortalecimento da fé do efetivo através de celebrações e cultos nas unidades militares; prestar aconselhamentos espirituais; fazer visitas periódicas às unidades e seções; visitar as famílias nas vilas militares; celebrar ofícios fúnebres, bodas, casamentos e batismos.

De sargento músico a capelão militar

Foram 20 anos dedicados à música dentro da Força Aérea Brasileira. Mas a possibilidade de exercer o ministério pastoral na FAB e o desejo de ser um oficial levaram o então Sargento Marcelo Pereira da Rosa a realizar o concurso para a capelania da Aeronáutica. E, desde 2013, o militar integra o quadro dos oficiais capelães da FAB.

Para o agora Tenente Capelão Evangélico Marcelo já possuir uma carreira militar facilitou suas atividades como religioso. “Saber quais são as motivações e expectativas cotidianas dos sargentos, cabos e soldados, facilita muito o trabalho pastoral”, revela o Tenente, que se tornou pastor em 2008. O Capelão integra o efetivo do Quarto Comando Aéreo Regional (IV COMAR), em São Paulo, e presta assistência religiosa às Unidades Militares sob a responsabilidade do COMAR.

Para ele o maior desafio da nova função que exerce na FAB vai além das questões militares. “O capelão deve ser o militar no qual todo o efetivo, em qualquer circunstância, encontra refúgio. Para isso, precisa conquistar a confiança e a simpatia de sua Organização Militar ou área de atuação independente da religião professada, para que o capelão possa ser visto como alguém capaz de ajudar, de aconselhar e de ouvir - que é o que muitas veze as pessoas mais precisam”, finaliza.