DIA DA SAÚDE
No princípio, a luta pela vida
Os profissionais do Serviço de Saúde da Aeronáutica acompanham militares, servidores civis e dependentes da Força Aérea Brasileira (FAB) em todas as fases da vida. Por isso, em homenagem a esses profissionais de diversas especialidades, apresentamos uma série de reportagens que mostram esse acompanhamento em diferentes faixas etárias.
Na primeira reportagem, conheça a história da pequena Julia e de como os militares da Saúde se mobilizaram para garantir um tratamento adequado à recém-nascida.
Quando o Sargento Luiz Gustavo Aragão dos Santos e a esposa, Cássia, chegaram a Cuiabá (MT) com o filho de seis anos, Pedro, a maior preocupação da família era definir as questões relacionadas ao parto de Julia, que já estava perto de nascer. Para isso, procuraram o Tenente Germano Augusto Alves Pacheco, médico do Destacamento de Controle do Espaço Aéreo (DTCEA) da localidade para onde o sargento havia sido transferido.
O médico solicitou um exame de rotina e, já durante o procedimento, a notícia: a bebê tinha um tumor na região abdominal. “O exame foi repetido em dois dias e a lesão havia aumentado. Provavelmente, Julia precisaria de uma cirurgia imediatamente ao nascer”, explica o Tenente Pacheco. Ele orientou para que o parto ocorresse em um hospital da FAB, que teria mais recursos do que os credenciados em Cuiabá.
O Hospital Central da Aeronáutica (HCA), no Rio de Janeiro (RJ), que é referência em obstetrícia e assistência materno-infantil, disponibilizou a vaga. A partir disso, o Tenente Pacheco solicitou a Evacuação Aeromédica (EVAM). “O responsável pela UTI aérea nos atendeu de maneira muito rápida, assim como foi a disponibilização da aeronave”, ressalta o médico.
Aragão e Cássia precisaram encontrar forças rapidamente para lidar com a situação. “Em menos de 24 horas da decisão da transferência, já estávamos no HCA com diversos profissionais nos acompanhando”, conta o Sargento. O transporte foi feito em uma aeronave do Grupo de Transporte Especial (GTE), de Brasília (DF), que levou a bordo uma equipe formada por obstetra, pediatra e enfermeira para o apoio à gestante.
Uma semana após a internação, em 5 de abril de 2018, Julia nasceu e, duas horas depois, foi levada à UTI. “O tumor era muito grande e ‘roubava’ o fluxo sanguíneo, ocasionando dificuldade para respirar e insuficiência cardíaca”, relata a pediatra da UTI Neonatal, Tenente Angélica Mello. A médica conta que a equipe do HCA foi em busca de especialistas que tivessem experiência com casos como o de Julia, considerado muito raro.
Um dos médicos procurados avaliou que o caso seria inoperável pelo risco à vida da bebê. A proposta, então, foi realizar um tratamento clínico, que diminuiu a vascularização do tumor. “A resposta da Julia ao tratamento foi surpreendente. Ela ficou internada por quatro meses na UTI e a massa diminuiu muito”, completa a pediatra.
A pequena continua recebendo o acompanhamento multidisciplinar – com nutricionista, fonoaudióloga e terapeuta ocupacional, além de pediatra – no Ambulatório de Atendimento ao Recém-Nascido de Alto Risco. “O acompanhamento é necessário porque esses bebês perdem os estímulos iniciais ao ficarem internados. Assim, precisamos verificar se o desenvolvimento está acontecendo da maneira correta para garantir que vai ser um adulto socialmente, emocionalmente e intelectualmente capacitado”, explica a Tenente Angélica.
Para o pai de Julia, o comprometimento dos profissionais de saúde merece destaque. “Foram todos de uma grande sensibilidade, entenderam nossas dificuldades e ajudaram como puderam, orientando e agilizando tudo que era necessário”, ressalta o Sargento.
Atendimento ao Recém-Nascido de Alto Risco - O bebê que sai da UTI Neonatal, independente da razão – tem alto risco para o desenvolvimento, por isso precisa de acompanhamento constante. Além disso, no HCA existe um Plano de Trabalho Anual de atenção integral à saúde do recém-nascido. Idealizado pela Tenente-Coronel Médica Andrea Regina Dias da Costa, o plano inclui ações para melhoria da assistência na UTI neonatal e no Ambulatório.
A Tenente Angélica fala sobre o trabalho na UTI Neonatal com carinho. “Ao mesmo tempo é desafiador e gratificante. O recém-nascido tem uma particularidade que é o envolvimento muito grande com a família, principalmente no HCA que, muitas vezes, recebe pacientes que são de locais distantes e os pais ficam hospedados no hospital”, relata.
“O momento do nascimento é sempre de muita alegria. E pra essas famílias, por esse bebê estar na UTI e muitas vezes correndo risco, acaba se tornando um momento angustiante e de dúvidas. Mas nossos bebês nos ensinam muito, lutam com muita garra pela vida. Por isso é desafiador, tecnicamente porque muitas vezes são doenças graves como no caso da Julia, e também emocionalmente por esse contato em um momento tão delicado. Mas é muito gratificante e na maioria dos casos temos desfechos positivos”, completa a médica.
Dia do Serviço de Saúde - Criado em 2 de dezembro de 1941, o Serviço de Saúde da Aeronáutica nasceu integrado por Oficiais Médicos oriundos da sociedade civil, da Marinha e do Exército brasileiros, tendo como primeiro Diretor de Saúde, e hoje patrono, o Brigadeiro Médico Ângelo Godinho dos Santos.
Concebido inicialmente para verificar as condições físicas e psíquicas dos aeronavegantes com vistas à atividade aérea, o Sistema de Saúde cresceu, aperfeiçoou-se e expandiu suas atividades para as áreas assistencial, preventiva, odontológica e farmacêutica, sem perder jamais o foco nas atividades de medicina aeroespacial e operacional.
Fotos: Arquivo Pessoal