BUSCA E SALVAMENTO

Saiba como é executado o serviço de Busca e Salvamento

Por trás de toda operação para encontrar e resgatar vidas existe um complexo sistema
Publicada em: 25/06/2018 12:00
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Fonte: Agência Força Aérea, por Tenente Felipe Bueno

Em 26 de outubro de 2014, o Cessna PP-FFR decola de Santa Maria do Boiaçú (RR) com destino a Boa Vista (RR), mas não aterrissa no local planejado. Quatro dias depois, a aeronave é localizada com apenas um bilhete dos tripulantes, que deixaram o local debilitados, com fome e medo de onças. No dia seguinte, eles são localizados a 200 km da capital roraimense: cinco, incluindo uma gestante e um bebê, todos bem. Participaram da missão de busca e salvamento um avião SC-105 Amazonas SAR do Esquadrão Pelicano (2°/10° GAV) e um helicóptero H-60 Black Hawk do Esquadrão Harpia (7º/8º GAV).

Quando se fala em socorro a pessoas desaparecidas, a imagem de aeronaves buscando e resgatando sobreviventes é o que vem à mente do público. Porém, essa é apenas uma parte de todo um sistema desenvolvido pela Força Aérea Brasileira (FAB) para salvar o máximo de vidas possível. Nos bastidores, uma rede mundial monitora qualquer sinal de que alguém precisa de ajuda. E quando são acionados, seus integrantes só têm um pensamento: a rapidez é essencial.

“É importante que todos os elos do sistema estejam atualizados e treinados para uma boa execução do serviço. É fundamental que todos os envolvidos no tratamento de alertas de emergência atuem em acordo com padrões internacionais e necessidades do país”, afirma o Tenente Engenheiro Ronan Souza Freitas, Chefe do Centro Brasileiro de Controle de Missão (BRMCC), que integra uma rede mundial de colaboração, monitorando possíveis incidentes 24 horas por dia, pronta para buscar e salvar vidas.

Origem

Os primeiros relatos de Busca e Salvamento (SAR, do inglês Search and Rescue) de pessoas em situação de perigo remontam à Idade Média, quando expedições saíam à procura de embarcações desaparecidas. Propriamente, a história do serviço SAR começou na Segunda Guerra Mundial. Na Grã-Bretanha, a Royal Air Force vinha sofrendo perdas significativas em seu efetivo ao defender o território britânico e ao realizar ataques contra a Alemanha. A preocupação era humanitária, mas também estratégica: os aviões abatidos eram repostos mais rapidamente que os pilotos, já que novos tripulantes precisavam passar por formação e treinamentos.

A partir daí, foi organizada uma rede de comunicações especial para orientar pousos forçados e saltos de paraquedas em áreas mais adequadas ao resgate. Os resultados foram positivos: o efetivo passou a contar com pilotos mais experientes e o moral da tropa foi fortalecido pelo sentimento de que as chances de sobrevivência eram boas em caso de abate.

Em 1944, representantes de 54 nações compareceram à Convenção de Aviação Civil Internacional (CACI) para estabelecer normas reguladoras para o transporte aéreo. Do encontro em Chicago (EUA) nasceu a instituição que se tornaria a Organização de Aviação Civil Internacional (ICAO) e, no documento referente à CACI, o Anexo 12 abordou exclusivamente as medidas relativas ao serviço SAR.

No Brasil, o então Ministério da Aeronáutica criou, no fim de 1950, o serviço de Busca e Salvamento em cada Zona Aérea. Uma aeronave Catalina, pertencente, na época, à Base Aérea de Belém, foi colocada à disposição para missões SAR. Dois eventos foram importantes para a evolução do serviço no país: em 1947, um voo do Correio Aéreo Nacional (CAN) caiu numa área pantanosa de Porto de Moz (PA) e as experiências adquiridas pelos militares que entraram na mata para prestar socorro os levaram a perceber a necessidade de organizar e preparar melhor o trabalho; e, em 1967, cinco sobreviventes foram resgatados 11 dias após a queda do voo FAB 2068, em um C-47 encontrado próximo a Tefé (AM). Nesta ocasião, foram envolvidas 35 aeronaves da FAB e da Força Aérea Americana (USAF), 347 pessoas e mais de mil horas de voo. Um dos resgatados, ao avistar a equipe da FAB, disse a frase que se tornaria um bordão: “eu sabia que vocês viriam!”.

Ajuda satelital

Em 1979, foi assinado um memorando de intenções para se desenvolver um Sistema SAR com o auxílio de satélites. A conjunção de agências da União Soviética, Estados Unidos, Canadá e França gerou a união do Sistema Espacial de Busca de Embarcações em Situação de Emergência (do russo Comischeskaya Sistyema Poiska Avarivnich Sudov) e do Sistema de Busca e Salvamento por Rastreamento de Satélite (do inglês Search and Rescue Satellite-Aided Tracking System). O resultado da união ficou conhecido como COSPAS-SARSAT e entrou em operação em 1985 para todos os países, sem discriminação. Outras nações se associaram ao programa, contribuindo com estações terrestres de recepção, aumentando a eficiência do sistema - entre eles, o Brasil.

O sistema é composto por satélites em órbitas geoestacionárias, polares baixas e em média-altitude, além de antenas de recepção. Essas instalações são capazes de detectar balizas de emergência transmitidas por diferentes equipamentos. O Emergency Locator Transmitter (ELT), utilizado em aeronaves; o Emergency Position-Indicating Radiobeacon (EPIRB), por embarcações; Personal Locator Beacon (PLB), para uso pessoal; e o Ship Security Alert System (SSAS), acionado apenas em casos de terrorismo ou pirataria em embarcações.

Em solo

Quem recebe esses sinais de alerta é o Centro Brasileiro de Controle de Missão (cuja sigla, em inglês, é BRMCC), localizado no Primeiro Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (CINDACTA I), em Brasília (DF). De lá, os alertas são distribuídos entre cinco Centros de Coordenação de Salvamento Aeronáutico (ARCC), localizados nos CINDACTA, ou seja: Brasília, Curitiba (PR), Manaus (AM) e dois no Recife (PE). A unidade da capital pernambucana sedia os ARCC Recife e Atlântico, este responsável pelo serviço na área oceânica sob o controle do Brasil. Os ARCC também são conhecidos como SALVAERO.

Após o acionamento de todo esse sistema é que entram em cena as missões de busca e/ou de salvamento. Quem opera nos bastidores afirma: a sensação de ajudar a salvar uma vida é o mesmo para quem atua no início ou no fim do processo. ”A satisfação é a mesma, pois, apesar de não estar na execução do resgate, o trabalho de coordenação é fundamental para que o objeto da busca seja localizado e os sobreviventes resgatados. Cada decisão errada pode utilizar recursos de maneira inadequada e comprometer uma operação de busca e salvamento”, conta o Tenente Ronan.

Esquadrão de Busca e Salvamento

A FAB possui um esquadrão especialmente treinado para cumprir missões SAR: o Pelicano (2°/10° GAV), localizado na Ala 5, em Campo Grande (MS). Outros esquadrões também fazem missões de busca, desde que tenham suas tripulações com treinamento específico. Algumas unidades de asas rotativas cumprem ainda missões de salvamento. O Pelicano opera aviões SC-105 Amazonas e helicópteros H-1H, mantendo sempre um avião e um helicóptero em alerta para decolagem em poucos minutos, equipados para atender a qualquer situação de emergência, seja na terra ou no mar.