AEROESPACIAL

Do “14-Bis ao 14-X“ leia a história por trás da Operação Cruzeiro

O projeto 14-X foi batizado desta forma em homenagem ao centenário, em 2006, do primeiro voo do 14-Bis
Publicada em: 03/12/2021 11:00
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Fonte: DCTA, por Tenente Larissa
Edição: Agência Força Aérea - Revisão: Major Oliveira Lima

A história da aviação no Brasil vai além dos 80 anos de existência da Força Aérea Brasileira (FAB). A indústria aeronáutica nacional não existiria sem a contribuição de pessoas dedicadas à ciência e ao desenvolvimento do País ao longo de toda a história nacional, como o “Pai da Aviação”, o célebre Alberto Santos-Dumont. O jovem sonhador alçou novos ares quando, em 23 de outubro de 1906, uma aeronave, denominada 14-Bis, decolou no Campo de Bagatelle (França), mantendo-se a três metros de altura ao longo de 60 metros. Era o marco da aviação e em sua homenagem a tal feito o Dia do Aviador e da Força Aérea Brasileira é comemorado em 23 de outubro de cada ano.

Outro visionário, foi Casimiro Montenegro Filho, que assumiu a missão de fundar as bases de uma indústria de aviação nacional. Nascia, assim, o Centro Técnico de Aeronáutica (CTA) e o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), a primeira escola de formação de engenheiros aeronáuticos do Brasil, no ano de 1950, na cidade de São José dos Campos (SP).

Vale destacar, ainda, o grande marco da época, o projeto do primeiro avião comercial desenvolvido no Brasil, liderado pelo Major Aviador e Engenheiro formado no ITA (turma 1962), Ozires Silva: a construção da aeronave Bandeirante, que realizou o seu voo inaugural em 22 de outubro de 1968. A aeronave estimulou a aviação regional no País e deu início à Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer) que viria a se tornar a terceira maior fabricante de aeronaves comerciais do mundo.

A criação do CTA, atual Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), trouxe oportunidades, desafios e um futuro promissor para o desenvolvimento tecnológico do País. Em seus mais de 50 anos de história, o DCTA tem como missão “Desenvolver soluções científico-tecnológicas no campo do Poder Aeroespacial, a fim de contribuir para a manutenção da soberania do espaço aéreo e a integração nacional”, fator que impulsiona essa Organização Militar a buscar meios de contribuir com o desenvolvimento da sociedade e domínio do setor aeroespacial.

Para o Diretor-Geral do DCTA, Tenente-Brigadeiro do Ar Hudson Costa Potiguara, a Organização Militar apresenta em toda sua história grandes feitos que tem impulsionado ainda mais o desenvolvimento tecnológico. “O DCTA é responsável por entregas de grande relevância para a sociedade, isso remonta desde invenções como o motor a álcool que foi concebido aqui. A produção de tecnologia e inovação é o que move o Departamento. Todo conhecimento empregado em projetos revela a maturidade e entrosamento sinérgico entre pesquisa pura e aplicada” afirma o Oficial-General. 

A Era Espacial Brasileira

A FAB deu início a seus trabalhos e estudos no setor Espacial no ano de 1963 com a criação do atual Centro de Lançamento da Barreira do Inferno (CLBI), localizado em Natal, no Rio Grande do Norte. Mais tarde, com a criação do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE) foi desenvolvido a família Sonda de foguetes, que permitiu ao Brasil o domínio das tecnologias necessárias para o projeto de um Veículo Lançador de Satélites (VLS) e incitou a construção de um novo centro de lançamento de foguetes, uma vez que o CLBI não comportava o lançamento de um foguete do porte do VLS. Nascia assim, em 1983, o Centro de Lançamento de Alcântara (CLA) com o objetivo de realizar lançamentos e rastreio de engenhos aeroespaciais, ampliando a capacidade científica, tecnológica e de inovação da FAB.

Vale ressaltar que as tecnologias do setor espacial costumam ser de conhecimento restrito aos países detentores desse conhecimento. Nesse sentido, o domínio de tecnologia no setor aeroespacial proporciona a autonomia aos países que a detém, evidenciando a capacidade da indústria nacional, além da grande visibilidade e projeção de poder no cenário mundial.

A Era Hipersônica Brasileira

O setor aeroespacial, desde o último século, busca evoluir e encontrar alternativas para tornar o voo hipersônico uma realidade. Nesse sentido, o DCTA tem em seu escopo um projeto que visa demonstrar toda a capacidade do Brasil em desenvolver um motor hipersônico e foguetes para a realização de experimentos aeroespaciais. O projeto de Propulsão Hipersônica 14-X (PropHiper), desenvolvido pelo Instituto de Estudos Avançados (IEAv) desde 2008, visa capacitar o Brasil na área estratégica e prioritária da hipersônica por meio da operação em voo de um sistema com propulsão hipersônica aspirada (tecnologia Scramjet).

O projeto 14-X foi batizado desta forma em homenagem ao centenário, em 2006, do primeiro voo do 14-Bis. Fato que contribui para o surgimento da Campanha atual do “14-Bis ao 14-X”, que foi pensada por demonstrar a concepção de duas grandes ideias. Nesse sentido, o 14-X evidencia a mesma importância que o 14-Bis teve na época para Santos-Dumont, um homem que rompeu as barreiras da tecnologia e inovação, fato que o projeto hipersônico visa alcançar na atualidade, uma vez que iremos utilizar um veículo espacial para habilitar uma tecnologia Aeronáutica. 

Na próxima reportagem do especial “Do 14-Bis ao 14-X”, confira como o Projeto vem sendo desenvolvido e como será a Operação Cruzeiro, na qual ocorrerá o lançamento Veículo Acelerador Hipersônico (VAH) equipado com a carga útil do IEAv, denominada 14-XS, com a finalidade de proporcionar as condições necessárias para o ensaio em voo do Demonstrador de Tecnologia Scramjet (DTS), a partir do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA) e utilizando o Centro de Lançamento da Barreira do Inferno (CLBI) como Estação Remota.

Fotos: DCTA