FORÇA AÉREA 100

Comandante da Aeronáutica detalha planos para os 100 anos da FAB

Em entrevista, Comandante da Aeronáutica apresenta principais objetivos da instituição para os próximos 25 anos
Publicada em: 27/01/2016 09:30
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Fonte: Agência Força Aérea

  Cabo Feitosa/Agência Força AéreaO Comandante da Aeronáutica, Tenente-Brigadeiro do Ar Nivaldo Luiz Rossato, assinou nesta terça-feira (26/01) a Diretriz do Comando da Aeronáutica (DCA 11-45) que projeta como será o futuro da instituição. A “Concepção Estratégica – Força Aérea 100” delineia objetivos e principais desafios que a Força Aérea Brasileira (FAB) deve alcançar nos próximos 25 anos. Em 2041 a FAB completará cem anos.

Entre as metas está a qualificação dos profissionais do Comando da Aeronáutica. Segundo o Comandante, o militar da FAB em 2041 deverá ser “de alta capacitação operacional e administrativa, sendo referência para outras instituições da área governamental”.

Leia a seguir:

Agência Força Aérea - Qual deverá ser o papel da Força Aérea Brasileira em 2041?
Comandante da Aeronáutica - O papel da Força Aérea Brasileira será o mesmo que temos hoje, ou seja, manter a soberania do espaço aéreo com vistas à defesa da pátria. Certamente os meios aéreos, a interoperabilidade, a capacidade de comando e controle, a estrutura organizacional e o perfil de qualificação dos militares terão o benefício da evolução normal das diversas áreas do conhecimento.

Agência Força Aérea - Nas últimas décadas, os principais conflitos mundiais deixaram de ser travados entre Estados e passaram a ter como atores grupos nacionais ou transnacionais. O que isso significa no planejamento do futuro de uma força aérea?
Comandante da Aeronáutica - Não visualizo este cenário para nosso país. O pensamento unificado de que todos somos brasileiros e a união existente de Norte a Sul e de Leste a Oeste nos permitem pensar que não sofremos com problemas que existem em outras áreas do planeta. Temos, sim, que nos precaver das ameaças externas, pela cobiça que despertam nossas riquezas e nossas imensas áreas de vazio demográfico.

Agência Força Aérea - Uma situação comum nos últimos anos tem sido o uso de meios da FAB para atender à população em situações de crise, como no caso de enchentes, epidemias, queimadas e secas. Qual a visão do emprego da Força Aérea, no futuro, neste tipo de missão?
Comandante da Aeronáutica - Certamente não apenas continuaremos a cumprir este tipo de missão, como serão incrementadas. A carência de outros meios de transporte, as distâncias e a rapidez no atendimento por via aérea tornam a Força Aérea corresponsável na solução de problemas que estão dentro de seu alcance. Este tipo de missão faz, também, com que a população perceba a Força Aérea como sua protetora, não apenas contra ameaças externas, mas também para situações que precisam da intervenção do Estado.

Agência Força Aérea - No tocante aos meios aéreos, quais as perspectivas para os próximos 25 anos?
Comandante da Aeronáutica - Nossa Força está em processo de modernização e substituição de seus meios. Muitas mudanças já foram efetivadas como a implantação das aeronaves A-29 Super Tucano, AH-2 Sabre e H-60 Black Hawk. Outras estão em processo de recebimento, como o SC-105 Amazonas, H-36 Caracal e IU-50 Legacy 500. A modernização do caça F-5 está sendo finalizada e a do A-1 está em andamento. Entretanto, as modificações mais expressivas ocorrerão nos próximos anos com o recebimento do KC-390 e do F-39 Gripen, sendo que estas duas aeronaves constituirão a linh
a mestra de nossa aviação de transporte e caça. Embora costumemos falar muito em aviões, os tempos modernos têm novos atores no espaço como satélites e aeronaves remotamente pilotadas. As Forças Armadas precisam urgentemente incorporar estes meios em suas atividades militares e, por razões de afinidade, cabe ao Comando da Aeronáutica a iniciativa desta responsabilidade.

Agência Força Aérea - A FAB já tem em operação plena o seu primeiro esquadrão de Aeronaves Remotamente Pilotadas (ARP), hoje responsáveis por missões de reconhecimento. Qual a projeção para ampliar esse novo tipo de aviação na FAB? Podemos estimar para quando o uso, por exemplo, ARP em missões como ataque e patrulha marítima?
Comandante da Aeronáutica - Cinco anos atrás a FAB visualizou a importância das aeronaves remotamente pilotadas e criou o Esquadrão Hórus [1º/12º GAV, sediado em Santa Maria – RS]. Entretanto, esta unidade tem c
omo missão fundamental o desenvolvimento doutrinário utilizando as aeronaves Hermes 450 e Hermes 900, envolvendo não apenas o Comando da Aeronáutica, mas também as Forças irmãs. Foram elaborados os requisitos para um ARP conjunto e estabelecido um conceito de emprego que irá beneficiar as três Forças, como também outros parceiros que necessitam este tipo de equipamento. No momento, o andamento do programa depende da alocação de recursos financeiros.

Agência Força Aérea - Os caças F-5 completam, em 2016, 41 anos de serviço ativo na FAB. Caso tenha a mesma história operacional do F-5, o Gripen NG – cuja previsão para recebimento da primeira unidade é 2019 - deverá voar até 2060. O mesmo pode ocorrer com vetores como o KC-390. Há um planejamento para a operação de longo prazo desses vetores?
Comandante da Aeronáutica - O F-5 presta um excepcional serviço à Força Aérea e tem potencial para permanecer em serviço por pelo menos mais dez anos. Outras aeronaves têm a mesma folha de bons serviços como o T-25 Universal, H-1H e C-130 Hércules, todos com mais de quarenta anos em atividade. O potencial e expectativa que temos em relação ao F-39 Gripen e KC-390 é que atendam à Força Aérea por um longo período.

Agência Força Aérea - O senhor acredita que o Gripen NG será o último caça tripulado da FAB?
Comandante da Aeronáutica - O assunto é muito discutido por aviadores e especialistas da área aeronáutica. Tem mais valor emocional do que prático, uma vez que tudo depende da evolução das tecnologias. Eu penso que a tecnologia tem auxiliado muito no trabalho que era feito, no passado, totalmente pelo tripulante. Mas o ser humano é a máquina mais perfeita que existe e não será descartada com tanta facilidade.

Agência Força Aérea – A FAB tem ampliado o leque de atuação de suas aeronaves, boa parte por suas capacidades multifunção. É o caso dos P-3AM Orion, aeronaves de patrulha marítima capazes de realizar atividades de reconhecimento, ou o H-60, que levou a Aviação de Asas Rotativas para um novo patamar operacional, atuando inclusive como vetor de defesa aérea. Como a FAB planeja o futuro das suas unidades aéreas? O futuro é a multifuncionalidade?
Comandante da Aeronáutica - Esta multifunção está mais afeta aos caças de gerações mais novas como será o caso do F-39 Gripen. Outras aeronaves, como o C-130, o P-3 e os helicópteros, sempre foram usados em diversos tipos de missões desde que equipados adequadamente. Dentro deste conceito de adaptação dos meios ao cumprimento da missão, quando desativarmos os T-25 e, posteriormente, os T-27 Tucano na instrução primária e básica de nossos pilotos, acredito que usaremos um único avião, como já se torna usual em outras Forças Aéreas.

Agência Força Aérea - E em termos de estrutura? Quais as perspectivas em termos de mudanças estruturais da Força Aérea? A distribuição das Bases Aéreas no território, por exemplo, pode ser alterada nos próximos 25 anos?
Comandante da Aeronáutica - Estamos divulgando a Concepção Estratégica da Força Aérea 100, ou seja, de quando a Força completar cem anos. Junto com este documento, estamos finalizando também a revisão do PEMAER (P
lano Estratégico Militar da Aeronáutica) onde estão sendo aplicados conceitos de acordo com a capacidade que queremos da Força nos anos vindouros e adequando a estrutura, quantificação de pessoal, meios aéreos, número e localização das bases para atender esta visão de futuro.


Agência Força Aérea - Como o senhor avalia a gestão de conhecimento para a estruturação da Força Aérea do futuro?
Comandante da Aeronáutica - É indispensável, básico, que trabalhemos nesta área sob o risco de não conseguirmos avançar em nossos planos. Para aumentarmos nossa produtividade, otimizar nossos recursos em proveito da atividade fim, que é a “garantia da soberania do espaço aéreo com vistas à defesa da pátria”, precisamos ter uma revolução em nossos métodos de trabalho, na melhoria dos processos, na capacitação do pessoal e no uso de TI (Tecnologia da Informação).

Agência Força Aérea - E a política de pessoal? Que tipos de mudanças podemos ver nos próximos 25 anos?
Comandante da Aeronáutica - Racionalização do efetivo decorrente de uma estratégia de articulação que priorize as necessidades de treinamento e as demandas de emprego, buscando valorizar as características básicas de uma Força Aérea, como medidas práticas a concentração das unidades aéreas e uso de bases de desdobramento. A maior atenção à gestão do conhecimento pela concentração das atividades administrativas e implantação de processos modernos; o uso de PPP [Participação Público Privada] e EP [Empresa Pública] também contribuirão para a otimização e redução do efetivo. Paralelamente, será implementada a quantidade de pessoal temporário tanto de graduados quanto de oficiais. Esta mudança de perfil permitirá receber profissionais prontos para trabalhos específicos e possibilitará dar maior atenção, oportunidades e capacitação aos militares de carreira. Esta nova visão da Força exigirá também mudanças nos perfis de forma
ção de graduados e oficiais de carreira, adequando-os aos novos conceitos operacionais e administrativos.

Agência Força Aérea - Como deverá ser o militar da FAB em 2041?
Comandante da Aeronáutica - De alta capacitação operacional e administrativa, sendo referência para outras instituições da área governamental. Com visão ampla da missão da Força Aérea e sua inserção na estrutura pública e social brasileira. Deverá ter capacidade de se manter atualizado em diversas áreas, como TI e línguas estrangeiras. Terá condições plenas de operar de forma integrada com agências governamentais e Forças Armadas nacionais ou estrangeiras.


 Agência Força Aérea - O que baseia os planos do projeto Força Aérea 100? Há exemplos de outras Forças Aéreas?
Comandante da Aeronáutica - Fundamenta-se na análise do histórico e da conjuntura da FAB. A partir desta análise foi apresentado um diagnóstico da Força Aérea e uma visão prospectiva com as propostas a serem implementadas. Estas propostas, onde predominam o uso de TI, comando e controle centralizado, estrutura de apoio simplificada, mobilidade, armamento inteligente e meios aéreos com condições de fazer frente a qualquer ameaça são uma tendência mundial e já foram ou estão sendo aplicadas em diversas forças aéreas.

Agência Força Aérea - Todos os planos da FAB estão condicionados à disponibilidade de recursos enviados pelo governo federal. Qual a estratégia para assegurar o fluxo financeiro necessário para a realização dos planos propostos?
Comandante da Aeronáutica - A concretização dos planos da Força Aérea, assim como da Marinha e do Exército, depende de recursos do governo federal. Há necessidade de conscientização da sociedade em geral, do Congresso Nacional e dos diversos órgãos do governo para a importância da Força Aérea na defesa da pátria e do inestimável apoio que presta à sociedade em épocas de normalidade.
O Brasil, com sua grande dimensão, fronteiras vulneráveis e extenso litoral, precisa de Forças Armadas compatíveis para sua proteção. Se não tivermos os meios adequados para defendermos nossos interesses, nossas riquezas, nossa integridade e nosso povo, não cumpriremos nossa missão e colocaremos nossos militares em posição de vulnerabilidade. Destaco que, na guerra moderna, a capacidade de dissuasão fundamenta-se prioritariamente no poder aéreo. Além disso, qualquer agressão ao nosso País começará pela tentativa de destruição dos meios aéreos e sua infraestrutura para obter a supremacia aérea e a partir daí ameaçar todas as estruturas do país.
Entretanto, todos nós, homens e mulheres do Comando da Aeronáutica, não devemos adotar uma posição passiva, à espera unicamente que o governo nos repasse os recursos que precisamos. Podemos e devemos pôr em prática o plano da Força Aérea de otimizar os recursos de que dispomos, ou seja, fazer nossa parte, por em prática a “Concepção Estratégica Força Aérea 100”.