DIA DOS NAMORADOS
A batalha de namorar um soldado da paz
Passar o dia dos namorados em casa pode não parecer um plano muito bom, mas para a Bruna Brinker, 20 anos, e Wagner Cunha, 23, não vai ter coisa melhor. É que o casal ficou nada menos que seis meses separados, de dezembro até a última sexta-feira, dia 5. E ele não estava em uma viagem qualquer.
Wagner embarcou para o Haiti no início de dezembro. A partir daí os dois praticamente só conseguiram se falar, com restrições de horário, por meio do Whats App. Ela enviava mensagens e aguardava algum momento em que ele conseguisse ter uma folga na base. Quando muito, o encontro era via Skype, com vídeo. "O relacionamento saiu bem fortalecido. É muito tempo. A confiança e o respeito têm que ser muito grandes", conta Bruna.
Militar do Batalhão de Infantaria de Aeronáutica Especial de Canoas (BINFAE-CO), onde é chamado de Soldado de 1° Classe W. Cunha, especializado em serviços de guarda e segurança, ele era um dos mais de 1.300 membros do 21º contingente brasileiro na Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (MINUSTAH). Tropas de outros 18 países também estavam por lá, mas, para a namorada, todas as atenções iam só para aquele brasileiro.
"Um dia soube que um soldado se feriu, e eu fiquei muito preocupada porque ele não tinha falado comigo o dia todo!". No começo, ela perguntava muito sobre como eram as tarefas no Haiti, mas, por segurança, ele não podia contar. "Ele falava pouco. Mostrava só as coisas ali da base mesmo". Com o tempo, se acostumou a confiar no treinamento. "Ele passava bastante segurança".
A palavra treinamento, aliás, tem uma conotação dupla nessa história. Antes da missão no Haiti, o soldado passou 45 dias treinando em diversas localidades. Enquanto ele se concentrava em temas como regras de engajamento e patrulhas diurnas e noturnas, ela exercitava a capacidade de enfrentar a distância.
E, assim como Wagner, Bruna também foi, por assim dizer, voluntária.
Foi ainda no começo de 2014, na volta de umas férias de verão em Santa Catarina, que o telefone de Wagner tocou com a notícia de que ele havia sido selecionado para integrar o pelotão de 29 homens da Força Aérea que iriam para o Haiti. "Ligaram meio dia, ele tinha até 7 horas do dia seguinte para dar a resposta", lembra.
"Eu tive que parar, pensar e raciocinar o ponto positivo para ele. Eu não poderia ser egoísta". Ela conta que sim, teve medo, teve tristeza e se sentiu sozinha, mas preferiu apoiar o namorado. "Na despedida eu já estava mais segura".
Bruna, que nunca havia conhecido um militar antes de começar a namorar Wagner, em 2013, passou a entender sobre a vida no quartel. "Quando ele falou que era soldado, comecei a procurar saber mais". No começo, os serviços de guarda durante a noite, finais de semana e feriados foram motivo de ciúmes. "Eu tive que me acostumar com a rotina dele". Agora, ela mesma incentiva para que Wagner siga carreira militar. "Eu falo que ele tem perfil. Dou um empurrãozinho para ele fazer a prova de sargento".
A tática dela para suportar a distância foi estudar, trabalhar e não deixar a rotina tomar de conta. Na semana, se dividia entre o curso de administração e o estágio na Prefeitura de Canoas. O desafio maior era no sábado e no domingo. "Era quando a gente ficava mais tempo juntos. Até os meus pais sentiram falta do Wagner. Tudo o que a gente fazia, principalmente nas férias, pensava: -Ah, se o Wagner estivesse aqui!"
Depois de seis meses combatendo a saudade, ela e uma amiga - que namora um Cabo da Força Aérea - receberam a notícia da volta deles. "A gente ficou eufórica". Durante todo o período da missão, militares em Canoas mantiveram contato com os familiares.
No dia da chegada, o encontro foi rápido. Logo após o desembarque todos foram encaminhados para exames médicos, e liberados só 24 horas depois.
Agora, no dia dos namorados, a vontade é de simplesmente não se desgrudar. "Como está frio aqui em Porto Alegre, vamos só ver uns filmes, tomar vinho e ficarmos juntos", planeja Bruna. Um plano realmente ótimo para o casal.