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Irmãos de farda, irmãos de alma

Num intervalo de 8 anos, militar da FAB recebe transplante de dois rins doados por colegas de turma
Publicada em: 24/12/2016 08:00
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Fonte: Agência Força Aérea, por Cynthia Fernandes

Ele tem 51 anos e quatro rins. De olhar intenso e comportamento reservado, o Coronel Davi Rogério da Silva Castro, militar da reserva da FAB, ainda se recupera do último transplante, feito no início do mês de novembro. A descoberta de uma insuficiência renal genética resultou em duas cirurgias, num prazo de oito anos. Mas o que difere essa história entre tantas pessoas que aguardam na fila por um transplante? É que os doadores são bem conhecidos do Coronel Davi. Dois amigos de turma - um da Escola Preparatória de Cadetes do Ar (EPCAR) e outro da Academia da Força Aérea (AFA) - deram ao militar duas novas chances de viver.

Descoberta da doença - A perda do irmão devido a complicações renais, em agosto de 2008, acendeu uma luz vermelha no estado de saúde do Coronel Davi, que na época servia no Comando Geral de Operações Aéreas (COMGAR), em Brasília. Depois de fortes dores de cabeça e de uma bateria de exames, o resultado confirmou a suspeita: era necessário fazer um transplante de rim. Com a saúde abalada, o militar entrou para a fila de doação de órgãos. O prognóstico não era favorável.

“Compatibilidade de irmãos” - Na época, a cor de pele amarelada e a feição visivelmente abatida chamaram atenção do então Tenente-Coronel Geraldo Corrêa de Lyra Junior, amigo de turma da AFA do Coronel Davi. Depois de uma conversa rápida Lyra disse sem hesitar: “Davi, vou doar meu rim pra você”. Após uma bateria de exames, o resultado surpreendeu a equipe médica - os coronéis tinham compatibilidade de irmãos. Uma probabilidade de uma a cada quatro pessoas. “A compatibilidade era tão grande que eu considerava que estava cuidando
desse rim para o Davi”, comentou o Coronel Lyra. O transplante aconteceu em setembro de 2008 e foi um sucesso. O Tenente-Coronel Sergio Koch, também da Turma Águia, foi o acompanhante do amigo Lyra após a cirurgia. “Testemunhar aquele tipo de acontecimento foi emocionante”, conta Koch.

Segundo Transplante - No início de 2016, Davi foi informado que o rim adquirido já não cumpria mais seu papel como deveria. Uma superbactéria contraída atacou o organismo do Coronel e, por consequência, o rim transplantado. O militar precisaria de um novo órgão. Coincidentemente, dias depois da notícia dada pelo médico, o Coronel Davi viajou para o encontro de 35 anos da Turma Águia, em Barbacena. Ao saber da história, foi a vez do amigo Vitor da Costa Almeida se prontificar a doar um dos seus rins. Durante um exame de imagem, pra saber como estavam as condições dos rins de Vitor, uma surpresa: o doador tinha três rins. Segundo o laudo, um dos rins de Vitor era desmembrado, com duplicidade renal. A informação médica foi encarada por ele como um sinal de Deus. A cirurgia do Coronel Davi foi realizada no início de novembro e a reabilitação é um processo acompanhado continuamente. “Eu não tenho muito a dizer, apenas que eles são meus irmãos”, revela o Coronel Davi.

Turma da humanidade - Além dos dois doadores da Turma Águia que deram o rim ao Coronel Davi, outros companheiros também colaboraram com a trajetória do militar. Os integrantes se reuniram para garantir que todo o processo do segundo transplante acontecesse da forma mais rápida possível. Abriram uma conta bancária e cada um ajudou com a quantia que pôde. Com a cirurgia agendada, o valor foi suficiente para pagar todas as despesas do doador, como passagem aérea, além dos gastos com o acompanhante do pós operatório de Vitor. “Todos são capazes de fazer o que estiver ao alcance para que o próximo, o amigo, o ‘Águia’ viva bem”, destaca Vitor.