"Mangu, Mangu": brasileiros aliviam a fome de hatianos

Publicado: 2010-02-02 16:37:00

Mais de 500 toneladas de alimentos e água já foram transportadas por aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB) na Missão de Ajuda Humanitária para o Haiti. Foram mais de 50 voos para Porto Príncipe desde o terremoto do dia 12 de janeiro. É difícil saber quantas famílias de haitianos já foram beneficiadas pelos suprimentos brasileiros, embora seja raro encontrar alguém que não necessite de ajuda ou não passe a mão no estômago quando algum estrangeiro se aproxima. A equipe de reportagem da Força Aérea no Haiti participou de uma patrulha com representantes das Nações Unidas em Ti Haiti, uma das regiões mais carentes de Porto Príncipe, que, em créole, quer dizer petit Haiti (pequeno Haiti), uma espécie de aquário dos principais problemas que assolam o país.



Homens, mulheres, idosos, bebês dividem espaço com lixões, ratos e porcos. Sem noção do cenário em que vivem, haitianos reclamam apenas de "mangu" (fome). Latas de sardinhas e outros enlatados enchem os olhos dos habitantes de Ti Haiti que combatem a fome com bolinhos de areia. O nome não é nenhuma metáfora,é a receita: areia + manteiga + sal; misturados e secos ao sol.

As senhoras que produzem e vendem esses bolinhos de areia não precisam persuadir ninguém para vendê-los. Os bolinhos juntamente com um pouco de água, incham e enganam a fome. "Eles comercializam ainda com base no escambo. Trocam entre si aquilo que precisam", diz o Capitão A. Silveira que conduz a visita na região.



Confinadas em paredes de zinco, sem banheiros, luz ou água, a região que fica a noroeste de Porto Príncipe, é cortada por trechos de água completamente cobertos por garrafas e lixo. Em uma poça de água isolada, mães banham seus filhos com o único líquido barrento que encontram. Um bebê dava suas primeiras engatinhadas driblando os escombros do que restou depois do terremoto de 12 de janeiro.

Crianças eufóricas recebiam o grupo de brasileiros entre cantos e danças e também chamavam a atenção puxando nossas roupas ao som de: "Um Dólar. American Dólar". É então que entendemos as recomendações da equipe da ONU. "Não dêem dinheiro, nem bebam ou comam nada na frente deles".



Pouco menos de duas horas caminhando no bairro que fica ao lado da famosa Cité Soleil, um dos mais violentos da cidade, é fácil perceber que ali também não há emprego. Homens e mulheres vagavam por entre os barracos.

Quando a patrulha dos militares brasileiros ia embora, as palavras de despedida eram as mesmas da chegada. "Mangu"!