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Aviação de Busca e Salvamento da FAB: Voando para salvar vidas

Publicado: 2025-06-26 07:00:00
Missões coordenadas com precisão e tripulações preparadas para salvar em qualquer tempo, em qualquer lugar

Em 26 de junho, a Força Aérea Brasileira (FAB) celebra os 58 anos da histórica missão de busca à aeronave C-47 Douglas, matrícula 2068, marco que definiu a data como o Dia da Aviação de Busca e Salvamento. Essa atividade, uma das mais nobres da FAB, tem como essência a missão de salvar vidas. A data reverencia os militares que, com dedicação e coragem, atuam no resgate de vítimas de acidentes aéreos e marítimos em todo o território nacional. A FAB, por meio da Aviação de Busca e Salvamento, destaca-se pela prontidão e eficiência, desempenhando um papel crucial no atendimento a emergências, especialmente em regiões remotas e de acesso desafiador, reafirmando seu compromisso com a segurança e o bem-estar da população brasileira.

Saiba o porquê da Aviação da Busca e Salvamento

A prestação do serviço de Busca e Salvamento Aeronáutico e Marítimo atende às normatizações da Organização da Aviação Civil Internacional (OACI) e da Organização Marítima Internacional (OMI), agências especializadas das Nações Unidas dedicadas a regulamentar e promover de forma segura, a aviação e o transporte marítimo globais, respectivamente.

O Brasil, enquanto signatário das convenções dessas instituições, tem por obrigação manter o serviço de Busca e Salvamento no padrão exigido, nos 22 milhões de quilômetros quadrados sob sua responsabilidade. Isso viabiliza que o país esteja inserido na comunidade internacional, recebendo rotas marítimas e aéreas de outros países.

Para tanto, a FAB é responsável pela execução do serviço de Busca e Salvamento Aeronáutico, coordenando esforços por meio do Sistema de Busca e Salvamento Aeronáutico Brasileiro (SISSAR). A missão integra esquadrões, aeronaves, tripulações e recursos das Forças Armadas, além de polícias e corpos de bombeiros, garantindo uma resposta eficiente e articulada em operações de resgate em todo o território nacional.

O Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA) é o órgão responsável pela orientação normativa e supervisão técnica do SISSAR, além da coordenação e controle de todas as missões SAR (Search and Rescue). Essa atuação ocorre sob orientação da sua Divisão de Busca e Salvamento (DSAR).  De acordo com o Chefe da DSAR, Major Aviador Bruno Vieira Passos, o SISSAR é a estrutura responsável por prover o Serviço de Busca e Salvamento no Brasil, de forma sistêmica, coordenada e eficiente. “É a espinha dorsal das operações de busca e salvamento em nosso país, atuando de forma integrada para garantir respostas rápidas e eficazes em situações críticas”, afirma o Oficial.

O Major Vieira destaca também a importância da articulação do SISSAR com instituições públicas e privadas, tanto no Brasil quanto no exterior. “Essa integração é essencial para ampliar nossa capacidade de resposta”, afirma. Entre os parceiros estão órgãos de Defesa Civil, o Sistema de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (SIPAER), a Marinha do Brasil e os países adjacentes ao Brasil, com quem há acordos formalizados por meio das Cartas de Acordo Operacional.

Dessa forma, a partir do SISSAR, os Centros de Coordenação de Salvamento Aeronáutico (ARCC), conhecidos como SALVAERO, são responsáveis por coordenar as operações SAR em suas respectivas Regiões de Busca e Salvamento (SRR, do inglês Search and Rescue Region), que coincidem com as Regiões de Informação de Voo (FIR, do inglês Flight Information Region). Cada Centro é guarnecido 24 horas por dia com pessoal capacitado e treinado. Atualmente, existem cinco ARCC: Brasília, Curitiba, Recife, Atlântico e Amazônico. Para garantir a pronta-resposta, os ARCC são localizados em salas adjacentes às do Controle de Tráfego Aéreo, dentro dos Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (CINDACTA). Assim, caso alguma aeronave comunique que está em situação de emergência, os meios SAR são rapidamente acionados.

As aeronaves também contam com dispositivos que comunicam situações de emergência via satélite, que são os ELT (do inglês Emergency Locator Transmitter). Caso acionado por uma aeronave, de forma automática ou manual, os satélites da constelação COSPAS-SARSAT replicam a informação para o Centro Brasileiro de Controle de Missão (BRMCC), localizado em Brasília (DF). O BRMCC, por sua vez, integrado na estrutura do SISSAR, passa a informação agilmente ao ARCC concernente.

Com base nas informações recebidas, o SALVAERO (ARCC) aciona o Comando de Operações Aeroespaciais (COMAE), que mobiliza os esquadrões especializados da FAB. A partir de então, as aeronaves e tripulações engajadas em uma missão SAR são denominadas SRU (Unidades de Busca e Salvamento, do inglês Search and Rescue Unit)

Aeronaves de resgate: “Para que outros possam viver… BUSCA!”

A frota de aeronaves da FAB é preparada para realizar missões de Busca e Salvamento em toda a gama de biomas e diferentes regiões do Brasil.

O SC-105 Amazonas, versátil e com grande autonomia, dotado de quatro postos de observação, sensores eletro-ópticos e radar de abertura sintética, cobre vastas regiões, chegando com agilidade. A bordo dessa aeronave, durante as missões de busca, compõem a tripulação paraquedistas especializados na atividade SAR, ou seja, mediante o avistamento de sobreviventes, eles podem saltar de paraquedas e prestar o pronto atendimento às vítimas.

O P-95M Bandeirulha e o P-3 AM Orion, com seus sensores embarcados, ampliam a capacidade de busca marítima, sendo capazes de detectar embarcações em perigo e pessoas no mar. Os helicópteros H-36 Caracal e H-60L Black Hawk são essenciais para, em conjunto com as aeronaves de asa fixa, acessar diretamente o local onde estão os sobreviventes. Realizam operações em mata fechada, montanhas ou em alto-mar — com resgates por içamento e operação noturna. Adicionalmente, o H-50 Esquilo também pode ser empregado em situações específicas.

"Do Pelicano a bandeira do SAR"

Esses meios estão sob responsabilidade de esquadrões capacitados e espalhados por todo o país. Em Campo Grande (MS), o Esquadrão Pelicano (2º/10º GAV) é referência nacional em missões SAR.

Atuando ao lado do Pelicano, o Esquadrão Aeroterrestre de Salvamento (EAS), conhecido como PARA-SAR, é uma Unidade com preparo específico para salvamento aeroterrestre, saltos em alto-mar, resgate em ambientes hostis e atendimento pré-hospitalar. O PARA-SAR tem homens e mulheres capacitados a cumprir as mais difíceis missões em qualquer local do Brasil, seja na paz ou na guerra.

O nome PARA-SAR representa fielmente o esforço que a Força Aérea faz, desde a década de 1950, para localizar e resgatar pessoas em acidentes aéreos, catástrofes e zonas de guerra. O uso dual da máquina de combate (vetores e militares de resgate) abarca não só as necessidades da guerra, como também a população brasileira como um todo, pois integra aeronaves de asa fixa, rotativa e paraquedas para alcançar pontos isolados e inóspitos.

A complexidade do território nacional, que inclui vastas florestas, montanhas e um extenso litoral, exige um preparo meticuloso e a pronta resposta dos militares. Esses profissionais, entre homens de resgate, paraquedistas e observadores, preparam-se com o conhecimento técnico e o equipamento necessário para atuar em diversos cenários, desde pequenos acidentes até grandes desastres com múltiplas vítimas.

De acordo com o Comandante do PARA-SAR, Tenente-Coronel de Infantaria Igor Duarte Fernandes, na rotina diária do PARA-SAR, o expediente planejado muda rapidamente quando soam as sirenes de alerta, momento em que a equipe, treinada para reagir rapidamente, reúne informações essenciais e decola a bordo de aeronaves de busca ou helicópteros.

“A adaptação ao dinamismo de cada missão é crucial; enquanto os militares estão em voo, novas informações são recebidas e analisadas, permitindo ajustes no planejamento inicial. No local do sinistro, o PARA-SAR executa operações que requerem precisão e coragem, como descidas de rapel em terrenos acidentados ou saltos de paraquedas para acessar regiões remotas. A habilidade de resgatar vidas nas condições mais adversas é o que torna o trabalho desses heróis tão valioso”, explica.

Assim, vale destacar que o PARA-SAR não se limita às missões SAR; também é responsável pela formação dos tripulantes especializados em Atendimento Pré-Hospitalar, os Homens SAR.

Os Resgateiros

O sucesso das missões está alicerçado em treinamentos constantes, capacitação técnica e uma cadeia de comando precisa. Os militares envolvidos estão preparados para agir em qualquer hora e em qualquer lugar. Os Homens SAR, conhecidos popularmente na tropa como "resgateiros", que geralmente são os primeiros a entrar em contato com as vítimas, são intensivamente treinados nas técnicas de Atendimento Pré-Hospitalar. Para chegar até as vítimas, dominam técnicas de infiltração e exfiltração a partir de helicópteros, como: rapel, içamento por guincho, McGuire (içamento por cordas), fast rope (descida rápida por corda) e helocast (salto do helicóptero na água). Além disso, muitos são capacitados também no salto de paraquedas (salto livre) e na atividade de mergulho. Pelo risco envolvido, é uma função que exige grande controle emocional diante de situações extremas.

Como um resgateiro, o Sargento Especialista em Guarda e Segurança Oséias da Silva Santos destaca o acionamento, em 2024, da Operação Taquari II, em que esteve presente e participou ativamente de diversos resgates em toda a região afetada.  Ele destaca a infiltração de técnicos na barragem de Dona Francisca, que registrou níveis históricos de vazão de água durante a enchente que assolou o Rio Grande do Sul em 2024, como uma das mais marcantes.

“Foi uma ação crítica! Qualquer falha naquela estrutura poderia transformar uma tragédia já devastadora em algo ainda maior. Passamos o dia inteiro salvando pessoas em áreas isoladas, enfrentando nosso maior adversário: o mau tempo, que ameaçava constantemente nossa capacidade de decolagem. E naquele início de noite, 13 vidas foram resgatadas!” relatou.

Além do 2º/10º GAV e do PARA-SAR, no Nordeste, o Esquadrão Falcão (1º/8º GAV), sediado em Parnamirim (RN), cobre o litoral e o interior com agilidade e, na Amazônia, o Esquadrão Harpia (7º/8º GAV), em Manaus (AM), supera os desafios da vasta selva com maestria.

"Pela Amazônia!"

A aeronave utilizada nas missões de Busca e Salvamento, no 7º/8º GAV, é o H-60L Black Hawk, um bimotor de médio porte, usado em diversas operações militares e de resgate, conhecido por sua versatilidade e robustez.

E foi com essa aeronave que o Esquadrão Harpia protagonizou uma missão de salvamento que reafirma o valor da coragem, da técnica e do compromisso com a vida: Os militares resgataram cinco sobreviventes de um pouso forçado no coração da floresta amazônica. A aeronave acidentada, o Caravan, matrícula PT-MES, havia decolado de Oriximiná (PA) transportando a Equipe Multidisciplinar de Saúde Indígena com destino à Aldeia Ayaramã. No meio da jornada, um chamado de emergência – o temido "Mayday" – ecoou nos sistemas do SALVAERO Amazônico, acionando imediatamente o COMAE. Por volta das 11h30, o Caravan foi forçado a pousar em mata fechada, a cerca de 150 km de Santarém. A colisão foi severa. Horas depois, o Esquadrão Harpia localizou os sobreviventes em terreno de difícil acesso. A única maneira de extraí-los era por meio do guincho do helicóptero, operação executada com precisão cirúrgica em plena selva.

“É motivo de imenso orgulho ver uma missão bem-sucedida. Trabalhamos dia e noite por isso: entregar resultados à sociedade brasileira e fazer a diferença na vida das pessoas”, explicou o Comandante do 7º/8º GAV, Tenente-Coronel Aviador Herhic Rabelo Alves Pereira.

Outros esquadrões fundamentais incluem o Puma (3º/8º GAV) e o Orungan (1º/7º GAV), no Rio de Janeiro (RJ); o Pantera (5º/8º GAV), em Santa Maria (RS); o Phoenix (2º/7º GAV), em Canoas; e o Netuno (3º/7º GAV), em Belém (PA).

Futuro

Em breve, espera-se que as aeronaves KC-390 Millennium atinjam a sua capacidade operativa final, o que inclui a habilitação a participar de missões de busca. Com seu grande alcance e agilidade, trarão ainda mais eficiência às missões, com possibilidade de lançar paraquedistas e equipamentos.

Fotos: Acervo pessoal e CECOMSAER