CRUZEX

Às vésperas do treinamento, Diretor da CRUZEX 2018 dá detalhes do exercício

Publicado: 2018-11-16 16:00:00
Brigadeiro Medeiros, Comandante da Ala 10 e Diretor da CRUZEX 2018, traz mais detalhes do exercício que começa no dia 18

Às vésperas do início da CRUZEX 2018, maior exercício multinacional e conjunto realizado pela Força Aérea Brasileira, o Diretor da manobra, Brigadeiro do Ar Luiz Guilherme Silveira de Medeiros, traz mais detalhes.

Qual etapa da CRUZEX está sendo executada neste momento?

Na quinta-feira, dia 15, já chegou uma aeronave de carga dos Estados Unidos, o C-17, mas que não participará do exercício. E as demais comitivas estrangeiras estão na iminência de chegar. Tudo conforme o planejamento. Os esquadrões brasileiros já estão pousando aqui na Ala 10. Hoje, sexta, iniciam os voos de familiarização neste aeródromo para os pilotos brasileiros que não costumam voar aqui, conhecidos como FAM-FIT, sigla para Familiarization and Integration Training.

Por que a CRUZEX é tão importante? Que tipo de ganhos operacionais a FAB espera desse treinamento?

O exercício é importante por três motivos. Primeiro, pelo intercâmbio de experiências. Em 2002, na primeira edição da CRUZEX, recebemos três países com meios aéreos e um país mandou observador militar. Hoje, temos sete países que irão trazer aeronaves, fora os observadores. Ou seja, a evolução é muito clara. Não é à toa que o número de interessados foi aumentando. Essa troca de experiências é essencial para que a Força atinja um nível de treinamento adequado. Em segundo lugar, a CRUZEX é importante pela interoperabilidade que proporciona: nesta edição, Exército e Marinha também estarão participando, inclusive nas ações de guerra não convencional, que é uma das principais novidades da edição deste ano. Nesse tipo de cenário, o conflito não acontece entre dois Estados constituídos, mas contra forças insurgentes. E, finalmente, o exercício é importante pela possibilidade de treinar os nossos meios logísticos-operacionais. Isso é essencial porque, na eventualidade de um conflito ou na eventualidade de o país ser deslocado, por exemplo, para atender a uma operação de paz, nós temos que ter essas expertises para executar.

O Sr. falou sobre a evolução entre a primeira edição do treinamento e a CRUZEX 2018. Poderia citar alguns exemplos de ganhos operacionais trazidos por esse exercício na Força Aérea ao longo dos anos?

São dois os mais importantes. A parte de Comando e Controle é um deles. Hoje, o Brasil já está muito desenvolvido e falando a mesma língua dos países da OTAN. Podemos trabalhar de forma integrada com essas nações. Outro aspecto é aquilo que chamamos de validação do tiro simulado, que é o shot validation, atividade que ocorre em exercícios como o Red Flag, da Força Aérea dos Estados Unidos. Não se trata apenas de atingir objetivos, mas avaliar resultados e verificar como ele está sendo atingido. Quando nós realizamos a simulação do emprego de armamento em um voo, somos capazes de avaliar o índice de desempenho operacional que nós atingimos. Se o emprego é real, é muito mais fácil de fazer essa verificação, de ver o armamento acertando o alvo; mas, no caso da simulação, é preciso utilizar sistemas de forma integrada.

Durante os treinamentos, haverá atividades que coloquem em uma mesma ação diferentes países?

Sim. Teremos reabastecimento em voo com aeronaves de países distintos, lançamentos de paraquedistas realizado por aviões de outras nações, entre outros exemplos. Esse é o cerne do intercâmbio de experiências, pois muitos dos militares que estarão operando aqui já atuaram em situações de conflito.

Essa é a primeira vez que treinamos o cenário de guerra não convencional na CRUZEX. Por que ele foi escolhido para esta edição?

As necessidades do Estado naturalmente evoluem com o passar do tempo. Nas missões de paz, por exemplo, já treinamos nossos meios terrestres, como ocorreu no Haiti. Nossos meios navais também foram treinados, como na missão do Líbano, em que o comandante é da Marinha do Brasil. Meios aéreos realizaram só missões de transporte. Agora, nós entramos em uma auditoria da ONU para utilizar outras aeronaves em missões de paz - no caso, o C-105 Amazonas, o H-6O Black Hawk e o A-29 Super Tucano. Essas aeronaves já estão pré-aprovadas para serem empregadas. Em uma necessidade, estamos prontos para operar. Então, o que nós vamos treinar na CRUZEX 2018 são ações ligadas a esse tipo de conflito, a guerra não convencional, que são bastante específicas. Nesses casos, o risco de dano colateral, ou seja, de atingir civis ou instalações não diretamente relacionadas ao conflito, é muito alto.

Por que investir em treinamento em um país pacífico, como o Brasil?

As Forças Armadas são do povo brasileiro. E, pelas características do nosso país, trata-se de muito mais de forças de defesa e não forças de ataque, que servem para garantir a defesa da Pátria e dos seus poderes constituídos. Essa é a nossa missão. E é pra isso que precisamos estar prontos; é para isso que estamos treinando aqui.

A FAB passou cinco anos sem realizar a CRUZEX. Por quê?

O que aconteceu entre a última edição, em 2013, e essa, em 2018, é que o país foi sede de grandes eventos. Tivemos a Copa das Confederações, a Copa do Mundo e as Olimpíadas, em que houve um grande envolvimento das três Forças. Nós não dispúnhamos de meios suficientes para fazer um exercício das proporções de uma CRUZEX.


Fotos: Sargento Bianca Viol/CECOMSAER