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AEROVISÃO

SUSTENTABILIDADE – Militares da FAB deixam carro na garagem e adotam bicicleta como alte

Publicado: 2015-07-28 08:50:07
A tendência de substituir o carro vem se consolidando nos centros urbanos brasileiros

  Moradora da cidade do Rio de Janeiro desde 2009, a Tenente Maria da Glória Galembeck substituiu o ônibus pela caminhada e pela bicicleta para ir ao trabalho. Após as obras de revitalização portuária que aconteceram em 2013 no centro da cidade, a parada de ônibus, que ficava próximo ao trabalho dela, foi deslocada para outro ponto.

“Depois dessas mudanças, para eu ir de ônibus, teria que fazer cerca de metade do caminho a pé obrigatoriamente, de tão longe que ficou. Então, resolvi buscar alternativas que eliminassem o ônibus. Já que eu ia andar 1,5 km, por que não andar 3 km?”

Apesar de tímidas e descentralizadas, pesquisas e estatísticas vêm surgindo por todo o país para embasar aquilo que já é possível verificar nas ruas: a gradativa substituição do carro e do transporte público por opções mais baratas, sustentáveis e saudáveis – como pedaladas e caminhadas.

Em São Paulo (SP), por exemplo, o IBOPE apurou que o número de pessoas que usa a bicicleta como meio de transporte aumentou 50% em 2014, em relação ao ano anterior. No Rio, a ONG Transporte Ativo divulgou que o número de ciclistas aumentou 300% na cidade em um período de dez anos (1992-2002). Os pesquisadores estimam que 50% deles usem a bicicleta para trabalhar ou estudar.

Entre as vantagens da mudança de hábito, estão a melhora na condição física, a diminuição do estresse ligado às relações no trânsito e, em alguns casos, a maior rapidez no deslocamento. Também é possível economizar o valor gasto com passagens ou com combustível e estacionamento.

“Eu pagava muito caro pelo pouco que me deslocava de ônibus. Com o valor cobrado por três passagens, pago o aluguel da bicicleta para o mês inteiro. Além disso, o trânsito do Rio é alucinante e alguns motoristas abusam da velocidade. Eu não via a hora de saltar do ônibus”, diz a Tenente Glória, que perdeu cinco quilos desde que passou a se deslocar a pé e de bicicleta.

Do outro lado do País, em Boa Vista (RR), o Sargento Fábio Ferreira Coimbra conta que leva menos tempo para realizar os trajetos de ida e volta do trabalho após ter trocado o ônibus oferecido pela FAB por uma bicicleta. Apesar de não existirem ciclovias ou ciclofaixas na cidade, já faz doze anos que o militar mudou seus hábitos e percorre de bicicleta 20 km por dia. 

“O ônibus tinha horário fixo, e nós temos uma demanda de trabalho que não nos dá muita certeza sobre que horas estaremos liberados. Chego muito mais disposto ao trabalho. Obviamente, ter uma boa bicicleta também implica em gastos, mas são eventuais, e o resultado na nossa saúde é impagável”, avalia o Sargento Fábio.

Segundo o levantamento da Organização Não Governamental Transporte Ativo, um ciclista pedala, em média, a uma velocidade de 16km/h. Isso significa que, em trajetos de até 6km, em grandes centros urbanos, a bicicleta é mais rápida que o carro. Já entre 6 e 10km, o tempo gasto é o mesmo.

Outra vantagem é poder conhecer melhor a cidade em que vive. O trajeto da Tenente Glória, por exemplo, contempla alguns dos principais cartões-postais brasileiros, como o Pão de Açúcar, o Aterro do Flamengo e os pousos e decolagens do Aeroporto Santos Dumont. “E tem o outro lado da cidade maravilhosa. Cruzo todos os dias com dezenas de mendigos que vivem sob as marquises, sozinhos ou em grupo, e têm na rua a sua casa. Creio que andar a pé nos deixa um pouco menos indiferentes com relação às mazelas urbanas, a realidade está estampada na sua frente. É diferente estar imersa na cidade e apenas vê-la da janela”, conta.

  Porém, nem tudo são flores. “No trânsito, muitos não respeitam os ciclistas. Uso equipamento de proteção individual básico, como capacete e luvas. Não podemos perder a atenção em nenhum momento”, diz o Sargento Fábio. Embora não seja obrigatória, a utilização desses equipamentos é recomendada para os ciclistas.

Os problemas estruturais também fazem parte da rotina de quem pedala nas principais metrópoles do país. Na capital federal, o Tenente Rafael Oliveira da Rocha identifica algumas carências, como placas inadequadas, falta de educação dos motoristas e descontinuidade das ciclovias e ciclofaixas.

O Tenente pedala de sua casa na Asa Sul até o Comando da Aeronáutica, na Esplanada dos Ministérios, todos os dias. Apesar dos percalços, recomenda. “Brasília é uma cidade plana e quase não chove, e nós, militares, temos a vantagem de dispormos de vestiários nas organizações. O único empecilho é a preguiça”, afirma.

Carro na garagem faz bem para a saúde

Caminhar e pedalar são exercícios aeróbicos importantes para melhorar a resistência e para auxiliar na perda de peso, o que influencia no combate à diabetes, hipertensão, colesterol e triglicerídeos, além de ajudar no controle da dor de algumas doenças ortopédicas. A atividade física também melhora a autoestima, a libido e libera substâncias que melhoram o humor.

Segundo o Tenente Médico Maurício Leite, ortopedista do Hospital de Aeronáutica de Recife (HARF), andar de bicicleta é um exercício de baixo impacto e, se executado de forma correta, não gera sobrecarga na coluna e joelhos. Apenas não se recomenda a atividade para portadores de artrose avançada. Quem possui capacidade pulmonar ou cardíaca limitada precisa consultar um médico antes de iniciar qualquer exercício.

“Existe uma série de recomendações quanto à ergonomia na hora pedalar para evitar dor durante e após os exercícios. A escolha da bicicleta adequada e o uso de acessórios como luva, capacete e um assento adequado podem prevenir lesões”, explica o médico.

“É preciso tirar os carros da rua”

A frase é do professor do Núcleo de Pesquisas Ambientais da Universidade de Brasília (UnB), Gustavo Souto Maior. Para ele, o atual padrão de mobilidade brasileiro com foco no uso do automóvel é causador de efeitos negativos, como a diminuição da qualidade do ar, a emissão de gases que influenciam no efeito estufa e o aumento de doenças respiratórias na população, além do estresse.

Segundo o professor, é necessário criar alternativas que estimulem o cidadão a usar o transporte público e andar mais a pé e de bicicleta. “A bicicleta pode ser um importante elemento de reordenação e reconfiguração do espaço urbano e da lógica social, além de obviamente, por suas características, ser um vetor de melhoria ambiental”, argumenta o professor.

Bicicleta no mundo

Número 1 de todas as listas de melhores cidades para andar de bicicleta, Amsterdam possui quatro vezes mais bicicletas que carros. O governo estima que transitem pelas ruas da capital holandesa 880 mil bicicletas, uma média de 1,1 para cada habitante. Lá, todas as ruas são adaptadas para os ciclistas, que dispõem de semáforos próprios e mais de 400 km de ciclovias e ciclofaixas. Em Londres, o novo Plano Diretor, aprovado em fevereiro deste ano, prevê a criação da maior ciclovia da Europa, que deve integrar toda a região central da cidade. 

Na Suécia, onde o Capitão Gustavo Pascotto foi treinar nos caças Gripen, as bicicletas também são muito comuns, inclusive dentro da base onde aconteciam os treinamentos, a F-7 Wing, na cidade de Sötenas. “A base é muito grande e dispõe de estações de bicicletas distribuídas em vários locais, para que os militares utilizem como meio de transporte”, conta o piloto.