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NOTIMP 063/2019 - 04/03/2019

Publicado: 04/03/2019 - 08:34h
JORNAL O TEMPO (MG)


Grupo militar no poder tem origem e modo de pensar uniforme

Cientistas políticos percebem posições coesas e com forte viés corporativo

Bruno Mateus | Publicada em 04/03/2019

Uma característica que se destaca no núcleo militar de Bolsonaro é que seis dos oito ministros, além do vice-presidente Hamilton Mourão, se graduaram na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), tradicional instituição de ensino superior localizada em Resende (RJ). Já os ministros Marcos Pontes, da Ciência e Tecnologia, e Bento Costa Lima Leite, de Minas e Energia, vieram, respectivamente, da Academia da Força Aérea e da Escola Naval.

De acordo com o pesquisador Denis de Miranda, coronel da Artilharia do Exército e sociólogo, a Aman e as demais instituições dão base ética, moral e intelectual aos militares. “O fato de ficar quatro anos em um internato gera uma consciência coletiva muito forte. Isso explica Bolsonaro ter levado tantos militares para o governo”, argumenta Miranda, autor da dissertação de mestrado “A Construção da Identidade do Oficial do Exército Brasileiro”, publicada em livro em 2013.

Ainda conforme Miranda, outro traço muito marcante entre o grupo é o conservadorismo e o pragmatismo: “Instituições fortes levam a pessoa a ter um desejo de manutenção do status quo. As pessoas não sonham, não são utópicas”.
Segundo o pesquisador, há uma lista de seis valores pelos quais as Forças Armadas se guiam: espírito de corpo, que seria a coesão e união entre a corporação, patriotismo, civismo, fé na missão, amor à profissão e aprimoramento técnico e profissional. Esses preceitos estão fortemente presentes nas atitudes e nas ideias da ala militar da gestão bolsonarista.

O cientista político e pesquisador da PUC-Rio, Eduardo Raposo, afirma que a graduação na Aman e mestrados e doutorados em outras instituições formaram integrantes das Forças Armadas que ocuparam ou ocupam grandes cargos políticos. “Os militares têm um preparo intelectual bastante nítido. A carreira deles é meritocrática, eles passam por diversos crivos”, diz.

O pesquisador da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Expedito Carlos Stephani Bastos diz que, entre os militares, há uma linha de pensamento muito coesa. “Eles pensam mais ou menos de forma semelhante”, avalia. Miranda compartilha da mesma opinião: “Se você fizer uma pergunta para um ministro ou outro, a resposta será mais ou menos parecida”.

Segundo Oswaldo Dehon, cientista político e professor de relações internacionais do Ibmec, o núcleo militar tem uma visão característica de Estado, sobretudo no que diz respeito à intervenção na economia.

“Creio que eles concordem com a privatização de alguns setores, mas devem fazer restrições nas áreas de ciência e tecnologia, minas e energia e infraestrutura, fundamentais para a soberania nacional”, pontua.

O professor ainda diz que é um erro pensar que os integrantes das Forças Armadas abandonaram o jogo político depois do fim da ditadura, em 1985: “Os militares fazem política o tempo todo. Eles estão nos corredores do Congresso, têm relação intensa com os partidos”.

Cientista político vê tensões entre militares e outros núcleos

O cientista político e professor de relações internacionais do Ibmec Oswaldo Dehon diz que os militares podem se chocar politicamente com outros setores do governo. Para ele, as tensões têm aparecido, especialmente, com o vice-presidente Hamilton Mourão: “A conduta dele tende a valorizar o profissionalismo dos militares frente a uma certa inexperiência dos políticos do PSL e de parte da base do presidente Bolsonaro”.

Como áreas mais sensíveis às tensões, o especialista destaca o orçamento do Ministério da Defesa para projetos estratégicos, como em defesa cibernética e programa nuclear da Marinha, e a reforma da Previdência. “Há uma pressão interna entre os militares para que haja valores maiores para seus salários. As Forças Armadas também gostariam de ficar de fora da reforma”, diz.

Para sociólogo, ditadura ainda é fantasma

Durante 21 anos, entre 1964 e 1985, o Brasil passou por uma ditadura militar. Para o cientista político e sociólogo Moisés Augusto Gonçalves, essas décadas ainda precisam ser passadas a limpo por civis e militares – muito embora o debate não aconteça, ele diz. “O que está sendo posto por alguns setores é um revisionismo desse período.”

Segundo o acadêmico, isso é prejudicial para se entender a história recente do país. “Quando você não faz um acerto com o seu passado, os fantasmas te perseguem”, comenta.

Ao analisar o perfil do núcleo militar que agora está no poder, Gonçalves diz que o discurso de Jair Bolsonaro, classificado por ele como autoritário, encontra concordância entre o grupo: “Os elogios do Bolsonaro ao (Coronel Brilhante) Ustra têm total ressonância nas falas do Mourão”. Sobre o vice-presidente, ele diz que a imprensa tem se deixado enganar “por esse verniz moderado que ele apresenta”.

Gonçalves, porém, ressalta que é preciso fazer uma distinção importante entre governos militares e governos de militares, como ele enxerga a gestão bolsonarista: “Diferentemente dos governos da ditadura, elevados ao poder por um golpe, Bolsonaro foi eleito democraticamente, de acordo com os anseios de uma parcela da população.”