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Quem é a Sargento Karla Renata Cavalcanti de Santana?

Conheça a história da Sargento especialista em eletrônica que também é professora de educação física, jogadora e árbitra assistente de futebol
Publicada em: 18/12/2016 09:00
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Fonte: DECEA, por Daisy Meireles

A prática de Karla no futsal contribuiu para o trabalho em equipe aplicada no PRSargento especialista em eletrônica, professora de educação física, jogadora e árbitra assistente de futebol são as qualificações profissionais da entrevistada da revista Aeroespaço. Disciplinada, impetuosa, generosa e muito persistente, conseguiu sucesso na carreira esportiva: foi campeã mundial de futebol feminino militar e hoje é árbitra assistente da CBF. Sua satisfação pessoal também vem do trabalho de inclusão social que realiza no Programa Forças no Esporte, inserido no Terceiro Centro Integrado de Defesa Aérea e de Tráfego Aéreo (CINDACTA III), contribuindo para a qualidade de vida de centena de jovens em situação de risco.

A história da militar Karla Renata Cavalcanti de Santana, de 36 anos, 1º Sargento Especialista em Eletrônica, começa a ser contada quando fazia seu último ano de escola técnica em eletrônica, na cidade do Recife (PE), o equivalente ao ensino médio.

Soube do concurso para sargento da Aeronáutica pelo edital em 1998, através do noivo de uma prima – que era cabo. O conteúdo da prova era exatamente o que ela havia estudado na escola técnica (1995-1998), daí achou que seria possível passar no Estágio de Adaptação à Graduação de Sargento da Aeronáutica (EAGS) .E assim aconteceu, prestou o concurso em fevereiro de 1999 e em março saiu o resultado de sua aprovação. Foi para a Escola em julho e, em seis meses, formou-se.

Em 1º de janeiro de 2000 seguiu para Manaus (AM), onde se apresentou, no dia seguinte, no Serviço Regional de Proteção ao Voo de Manaus (SRPV-MN), atuando como mantenedora dos radares PSR-MSSR (primário/secundário).

Iniciou sua missão no laboratório do radar, consertando os módulos do equipamento. Fez todos os cursos de equipamentos dos radares adquiridos para o projeto Sistema de Vigilância da Amazônia (SIVAM): “Eu fazia uma cirurgia robótica e fui preparada do alfinete ao foguete - do micro ao macro”.

Era tudo de última geração, e ela se sentia uma cientista, descobrindo, testando: “Posso dizer que eu brincava de descobrir e resolver problemas. Era tudo computadorizado e o meu trabalho era muito motivador!”

Durante três anos ficou nessa jornada de treinamento e operação assistida, quando então começou seu aprendizado na prática, fazendo manutenções preventivas e corretivas nos radares dos Destacamentos de Proteção ao Voo (DPV). Passou a ser comissionada e ficava um mês em São Félix do Xingu (PA) e um mês em Manaus (AM), ou dois meses em Vilhena (RO) e outros dois em Manaus, além de outros Destacamentos, como Santarém e Conceição do Araguaia, ambos no Pará.

Naquela época, não se exigia só conhecimento técnico, mas também muita força física, pois realizar manutenção nos radares requeria um bom condicionamento físico – visto que ficavam em torres de aproximadamente 25m de altura.

Sargento Karla – campeã mundial de futebol feminino militarA bola como paixão - A história da jogadora de futebol, nascida e criada em Recife, começa aos nove anos de idade. Karla tem dois irmãos mais velhos e o mais novo sonhava ser goleiro. Ela, então, solidária, improvisava o “campo” na garagem de casa, e chutava a bola para o irmão “incorporar” o goleiro. Daí nasceu a paixão. Da garagem de casa foi para a rua num só drible. Era só abrir o portão e correr para jogar com os meninos da rua. A mãe enlouquecia: “Isso é brincadeira de menino, Karla! Volta pra casa!”

Aos 10 anos, Karla tinha aulas de educação física no colégio, quando, então, começou a aprender as técnicas do futebol.

Na praça do bairro onde morava, um treinador montou um time de futsal feminino e ela se infiltrou na equipe. Eles jogavam com times de outros bairros, mas não era nada oficial naquele tempo. Mas competir já acelerava o coração da nossa atleta.

Assim foi que, aos 15 anos, quando entrou para a Escola Técnica Federal de Pernambuco, ficou sabendo das competições entre colégios, que eram bem conceituados no meio escolar. Já no primeiro período entrou para os times de todos os esportes. Isso mesmo, gastava mais tempo nas quadras do que na sala de aula. Se o tempo de educação física fosse o penúltimo, com certeza, Karla faltaria à última aula, já que ela permanecia na quadra de esportes.No futebol de campo, de salão, basquete, corrida – em tudo ela competia.

Era muito vista por olheiros e um dia foi indicada para um teste, quando foi treinar com a equipe de futebol do curso de educação física na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Ainda não podia competir nos jogos universitários pernambucanos ou brasileiros, porque não era aluna da UFPE, apenas treinava diariamente futebol de salão e só podia participar de competições não oficiais.

Num desses jogos, foi vista pelo técnico da seleção pernambucana, que a convidou a fazer parte do juvenil, aos 16 anos. Era a sua primeira convocação. Depois, aos 17 anos, passou para o curso de Educação Física na UFPE, engrenando, assim sua participação em competições universitárias.

Quando completou 18 anos, foi para a Copa Norte/Nordeste e voltou campeã regional juvenil de futebol de salão em Aracaju (SE), pela equipe pernambucana. Começou, nessa época, a treinar na Associação Atlética Banco do Brasil (AABB) e participar de competições regionais. Estudava de manhã na universidade, à tarde fazia estágio e à noite cursava o último ano na Escola Técnica. Treinava das 22h à meia-noite e, no dia seguinte, às 7h, já estava na sala de aula da UFPE.

Até aos 18 anos continuou nessa vida de estudos, treinamentos e jogos. Foi quando saiu a lista para a seleção pernambucana, sendo convidada para a Taça Brasil de Clubes de Futsal, em Campos do Jordão, SP.

Mas – ao mesmo tempo – saiu o resultado do concurso para a Aeronáutica. Continuou o treinamento, mas com muito medo de se machucar, pois estava prestes a fazer o teste físico para o concurso. No fundo, já havia se decidido pela Aeronáutica, abrindo vaga de jogadora na equipe, saindo da competição esportiva.

Karla já havia somado mais de 20 medalhas, dentre as quais as mais importantes são as do Campeonato Norte-Nordeste Juvenil (campeã) e adulto (campeã); jogos universitários pernambucano (bicampeã e vice) e Copa SESC (campeã).

O maior reconhecimento por todo empenho e trabalho dedicados ao futebol femininoDe 2000 até 2006 – período em que permaneceu em Manaus - não treinou mais futsal, só quando retornou ao curso de Educação Física e à equipe da UFPE. Até 2008, continuou com a vida anterior de trabalho, estudo e futebol, mas este último apenas como hobby.

Em Manaus deu continuidade ao curso de Educação Física na Universidade Federal do Amazonas (UFAM), mas não dava conta, por conta dos períodos de comissionamento e viagens, só conseguiu fazer 12 disciplinas.

Transferida para o CINDACTA III, em 2006, mudou sua rotina no trabalho. Não tinha tantas viagens e seu trabalho se resumia em supervisão e fiscalização dos radares, alimentando o sistema de controle de inoperância dos equipamentos.

O chefe da Divisão Técnica (DT) era o, então, Tenente-Coronel Engenheiro Matinha, que havia sido seu instrutor no Instituto de Proteção ao Voo (IPV), no curso básico de radar.

Após um ano no CINDACTA III, foi promovida a Segundo Sargento, isso em 2007 e, como já fazia serviços administrativos para a Subdivisão de Radares, foi escalada como secretária da DT, o que veio ao encontro de seus interesses, já que não queria participar da escala de serviço naquele período, em virtude de sua busca por aprimoramento no futebol. Estava ficando cada vez mais difícil compatibilizar seu quadro horário na faculdade com a rotina de serviços em horários variados no decorrer da semana.

Para Karla, a atividade era diferente e nova, mas estava disposta a trabalhar em qualquer lugar e sabia que ia se adaptar. Em 2008, foi eleita graduada-padrão, resultado da sua empatia e visibilidade por trabalhar na secretaria.

Ao começar a trabalhar com a Sargento Karla, o Tenente-Coronel Matinha já tinha ideia de seu desempenho, seu comprometimento e sua dedicação como técnica da área de radares. “A inteligência, a resiliência e o foco da sargento Karla estiveram constantemente à prova, o que não deixava dúvidas sobre sua capacidade. Ainda assim, ou talvez exatamente por isso, me surpreendeu a facilidade e a vontade demonstradas por ela em assumir essa nova função”.

Em pouco tempo estava atuando com desenvoltura e ajudando a manter o foco na atividade-fim da Divisão, à medida que todo o restante das atividades necessárias, ainda que acessórias, acabavam sendo filtradas e muitas vezes executadas por ela. Além disso, participava esporadicamente das missões de manutenção, denominadas campanhas, de modo a manter-se atualizada tecnicamente e não se afastar por completo do dia a dia dos seus companheiros de equipe.

O Coronel Matinha conta que essa proximidade e confiança no seu critério de julgamento permitiu que ele a incumbisse em uma dessas missões - quando estavam participando da atualização dos manuais de procedimentos de manutenção preventiva - de avaliar o tempo necessário para o cumprimento de todas as atividades, o que propiciou uma economia de recursos para as próximas manutenções daqueles equipamentos.

O Coronel Matinha passou a conhecer melhor a vocação de Karla para os esportes, a essa altura, já em proveito da própria organização, seja na aplicação dos testes físicos, seja em sua participação em diversas equipes esportivas quando da realização da Taça Eficiência.

Em 2007, Karla participava de diversas modalidades esportivas, destacando-se tanto nas individuais quanto nas coletivas. Mas o futuro ainda lhe reservava grandes surpresas.

Em janeiro de 2009, a Comissão de Desportos da Aeronáutica (CDA) mandou um rádio difral, informando que a FAB realizaria uma seletiva para futebol.

“Quando ouvi aquele rádio, meu coração disparou. Saí dali e fui direto para a sala do chefe” – conta Karla. Mesmo tendo tomado conhecimento tardio da seletiva da FAB para jogadoras de futebol, as quais poderiam vir a ser aproveitadas em equipe mista com o Exército e a Marinha e, em outro processo de seleção, vir a representar o Brasil em competição internacional entre Forças Armadas, ela, muito confiante, disse ao chefe que seria capaz de ter um bom desempenho.

O maior reconhecimento por todo empenho e trabalho dedicados ao futebol feminino“Confiei em sua autocrítica e, na manhã seguinte, liguei para a CDA - onde, em coordenação com companheiro de minha turma do Curso de Comando e Estado-Maior (CCEM), o qual coordenava as indicações para a seletiva - seu nome foi incluído na lista das atletas a serem avaliadas e ela teria que se apresentar naquele fim de semana para os testes” – confidencia o coronel.

Ela não só foi escolhida como representante da FAB na modalidade, como foi incluída na equipe das Forças Armadas Brasileiras, o que considerava muito difícil ocorrer, a equipe era praticamente toda formada por atletas de alto nível.

Após alguns treinos nos fins de semana, foi liberada do serviço para melhorar o desempenho, afinal, ela estava na equipe que iria representar o Brasil no campeonato entre Forças Armadas nos USA. Só, adiantando, Karla foi à competição e retornou com a medalha de ouro!

Nos três meses seguintes, de fevereiro a abril, investiu em treinos físicos e técnicos, fazia avaliação física corporal, participava de jogos amistosos, treinava com monitoramento GPS e frequência cardíaca e, no final de abril, saiu a relação de quem iria para o Mundial de Futebol Feminino Militar.

Foi a partir daí que ela começou a treinar efetivamente em futebol de campo. Até então só praticava futebol de salão.

Foram selecionadas três militares da Aeronáutica e mais 15 da marinha. A equipe recebeu o prêmio, uma conquista inédita: estreando e ganhando da Alemanha no futebol de campo.

O Suboficial Alexandre Mathias, hoje na reserva, era o técnico da Seleção Brasileira Militar de Futebol Feminino e tem o que falar de Karla: “Dentre as principais características da Sargento Karla, podemos destacar a disciplina, a determinação em busca da vitória e o comprometimento com a equipe, fator este muito favorável para o nosso sucesso. Além de ter notória sua habilidade futebolística, Karla também se destacou no desempenho das suas funções táticas. No aspecto pessoal, Karla sempre foi uma pessoa alegre e amiga, querida por todos do nosso convívio”.

Ser campeã mundial de futebol feminino militar foi um sonho que se tornou realidade, o ápice da sua carreira esportiva. Em março de 2012, foi agraciada com a Medalha Mérito Desportivo do Ministério da Defesa por ter se destacado em uma competição internacional.

Em 2009, quando voltou dos EUA, foi convidada para o Clube Náutico Capibaribe, e posteriormente para a Associação Vitória de Futebol. Pela primeira vez na história esportiva ela recebia uma ajuda de custo como atleta. Passou a receber uma bolsa-atleta do governo do Estado de Pernambuco – a única do futebol que recebia o auxílio pelo Estado de Pernambuco, isso porque tinha conseguido resultado internacional pela FAB.

Permaneceu treinando futebol no Vitória, com o objetivo de se manter em forma e não perder o ritmo de jogo. Acreditando que em 2010 poderia ser convocada para o Campeonato Mundial na França, chegando a receber um telefonema do Ministério da Defesa, para ir se preparando. Na época, pediu liberação ao comandante do CINDACTA III, Coronel Xavier, para treinar uma vez por semana. Quem sabe uma próxima convocação?! – pensava ela. Porém, não aconteceu: a equipe brasileira foi formada só com militares da Marinha.

Karla, decepcionada, começou a se sentir desanimada e resolveu parar com o futebol, porque não tinha mais expectativa.Ficou muito desestimulada. Além de cumprir com as suas obrigações como militar, tinha também que cuidar da parte física e da parte técnica.

“Eu percorria 50km até o clube, que fica no interior do Estado. Tudo isto era muito desgastante. Canalizei todos os meus esforços em algo que não obtive retorno. Assim, sem expectativa de retornar à equipe, resolvi parar de treinar futebol” - desabafa.

Em setembro de 2010, ela se aventurou em participar do pentatlo militar, disputado na Academia da Força Aérea (AFA). Era um desafio. Já que não foi convocada para o futebol, queria mostrar que seria boa em qualquer modalidade competindo como militar.

Tão impetuosa, sabia que uma das modalidades – a que tivesse menos pontuação – seria nota descartada. Tiro, basquete, pentatlo aeronáutico, natação e corrida de orientação ela sabia que poderia ter boa classificação. Mas esgrima? Nunca tinha tentado. Foi então para o Youtube. Começou a assistir competições da modalidade e “pegar os macetes”. Usou equipamento emprestado de um amigo e começou a treinar sozinha. Só treinou com outro parceiro quando chegou a Pirassununga para o campeonato. E qual não foi a surpresa?! Na esgrima ela conseguiu o primeiro lugar e foi classificada em terceiro lugar geral! Isso mesmo: Esgrima – 1º; Basquete – 2º; Tiro - 3º; Pentatlo – 3º; Orientação – 4º. Na natação não pontuou, sendo nota descartada.


Um novo estímulo: a arbitragem - No Mundial dos EUA, Karla conheceu o árbitro Marcelo de Lima Henrique, fuzileiro naval, que a incentivou a seguir a carreira esportiva como árbitro. Durante os jogos, ele percebeu que Karla tinha espírito de liderança, força de militar, excelente condicionamento físico e ótimo desempenho em equipe - características importantes para um árbitro.Karla tinha uma carreira consolidada e de vitórias como jogadora, mas estava encerrando. Por isso ele sugeriu que ela fizesse o curso e a indicou para a Federação Pernambucana (FPF).

Assim, no período de 2010/2011, ela fez o curso e formou-se árbitra assistente. “É uma carreira difícil, mas ela tem tido grande sucesso. O mérito é todo dela” – conta Marcelo, que teve a oportunidade de trabalhar com Karla como bandeira no jogo Central x Náutico: “Ela fez um excelente trabalho naquele jogo. Fico muito satisfeito com o resultado que ela tem em campo. Ela faz tudo muito bem feito” – elogia.

Hoje, Karla faz parte do quadro de árbitros assistentes (bandeirinha) da FPF, já tendo atuado em importantes competições no Estado e, desde fevereiro de 2012 faz parte do quadro nacional da CBF. “Quero participar dos Campeonatos Mundiais Militares de Futebol Feminino, agora, se possível, na condição de árbitra”– deseja nossa atleta, que já atua em competições militares nacionais.

No jogo Santa Cruz x Serra Talhada, o 1º jogo para a TV aberta em Recife foi histórico, pois o comentarista do programa, Wilson Souza Mendonça, elogiou sua atuação: “Karla botou para lascar, lances difíceis, várias vezes para dividir. Marcou três impedimentos no primeiro tempo e dois gols validados corretamente”. E, pense! - ele nunca elogiou ninguém publicamente na TV.

A árbitra e amiga Fernanda Colombo Uliana conta que, assim que entrou para a FPF, foi apresentada ao quadro de árbitros e entre eles estava a Karla. “Muitas pessoas falavam que eu iria tirar o espaço dela e já me consideravam sua inimiga. Como somos mulheres, estaríamos disputando. Essas pessoas erraram feio, pois a amizade que desenvolvemos foi muito além do futebol. Formamos uma ponte de apoio uma com a outra, treinamos, discutimos lances, vamos às reuniões e trabalhamos em vários jogos juntas, que são diversão garantida, desde a preparação até depois da partida”. Uma sintonia que deu certo e que passou inclusive para fora de campo. Fernanda foi apresentada ao Forças no Esporte através de Karla e hoje pode acompanhar e participar como voluntária. “A Karlinha é competente, responsável, dedicada, engraçada, proativa, inteligente, resumindo: fantástica! Seja no trabalho ou na sua vida pessoal. Tenho muito orgulho de ser sua amiga pra sempre!"

No PROFESP, Karla auxilia no apoio às aulas cívico-militar; na orientação e na i

Forças no Esporte - O Programa Forças no Esporte (PROFESP) contribui para a inclusão social de crianças, adolescentes e jovens, por meio da prática de atividades desportivas. No CINDACTA III teve início em 2010, na gestão do Coronel Xavier. Todo esse investimento contribui para melhoria das avaliações didáticas e diminuição da evasão escolar e, nesse contexto, Karla está totalmente envolvida. É aí que agora está o seu trabalho: oferecer um futuro promissor através do esporte e gerar bons frutos.

Seu espírito de voluntarismo é citado pelo Coronel Xavier, que o destaca como uma das características profissionais da militar. “A dedicação que ela teve na implementação do Programa Forças no Esporte foi importante, pois precisávamos de voluntários que fossem capazes de conceber o termo de convênio com o Ministério da Defesa, estabelecer as parcerias com os órgãos ligados à Educação na administração estadual, bem como definir o modus operandi da atuação do CINDACTA III junto aos jovens que passariam a viver parte de suas jornadas educativas, dentro da Organização”.

A Sargento Karla abraçou estas tarefas com determinação e eficiência e entrega, até hoje, parcela significativa de sua vida à tarefa de trazer a possibilidade de um mundo melhor e mais promissor à crianças que, antes de ingressarem no Projeto, não conseguiam imaginar um futuro além do dia seguinte em suas vidas. “Se o Forças no Esporte no CINDACTA III foi e ainda é considerado um projeto de execução e de gestão, com certeza a dedicação e o trabalho inconteste da Sargento Karla, ao longo dos últimos anos, foi fator determinante desse sucesso, graças aos seus inúmeros atributos éticos e profissionais" – declara o Coronel Xavier.

A prática de Karla no futsal contribuiu para o trabalho em equipe aplicada no PROFESP. As crianças aprendem a ter um raciocínio lógico e rápido, usando a cooperação para desenvolver outras habilidades físicas e motoras.

O PROFESP tem descoberto novos talentos que são encaminhados à iniciação de alto rendimento do Estado, como aconteceu em 2011, com Marcílio, na época com 14 anos. Ele quebrou o recorde pernambucano infantil dos 100m rasos ao participar da Olimpíada do Forças no Esporte, onde, na ocasião, encontrava-se o técnico de atletismo do Sport Club do Recife, que pediu para que o PROFESP investisse naquele futuro atleta.

Em 2013, dois irmãos, Deiziane e Deivison, após serem treinados em atletismo por dois anos seguidos no programa, participaram de vários festivais da modalidade, sendo identificados como talentos esportivos, de acordo com os índices de cada um. Em agosto eles partiram para um intercâmbio esportivo no Canadá.

Em 2015, outro exemplo citado pela equipe do PROFESP foi o ocorrido na V Copa Nordeste de Orientação e a II Copa de Inclusão Social do Programa Forças no Esporte (CISO), que reuniu participantes do PROFESP de quase todo o Brasil e o CINDACTA III enviou cinco jovens atletas estreantes com a supervisão e a orientação técnica das sargentos Karla e Wilma. O resultado foi brilhante: Laiza Tavares de Melo, da Escola Roberto da Silveira, foi a primeira colocada. Outro aluno, Alisson Gustavo dos Santos, alcançou a quarta colocação.

Dia Internacional da Mulher – Arena Pernambuco:  três mulheres no comando de uma

A sargento Wilma Barbosa é uma das coordenadoras do PROFESP e foi convidada por Karla a participar do programa por seu perfil de educadora e pelas conquistas no esporte. É uma atleta de renome na FAB na corrida de orientação – mas nunca havia sido indicada para receber a medalha mérito desportivo. Karla sempre se indignou com isso. Incomodada, um dia teve a oportunidade de falar sobre o assunto com o Brigadeiro Pinto Machado. Na época ele era comandante do Comar II e iria para a presidência da CDA em seguida. Após contar o histórico das vitórias e medalhas que Wilma conquistou como atleta, o que ele reconhecia, a militar foi condecorada com a medalha mérito desportivo, sendo – finalmente, reconhecida pela seu esforço e dedicação à FAB.

“Desde o início percebi o quanto Karla é atenciosa com os jovens, sempre voltada para o desenvolvimento de cada um e muito focada nos resultados. Ela tem uma visão diferenciada, é comprometida e proativa. Destemida, Karla corre atrás do que precisamos aqui no projeto e está sempre engajada em qualquer necessidade das crianças, principalmente com a segurança delas.É muito bem articulada no meio e, se há problemas, vai lá e tenta resolvê-los. Ela se transforma para resolver as coisas” – declara Wilma.

O Suboficial Wladimir Albuquerque Silva, coordenador-geral do PROFESP no CINDACTA III, declara que trabalhar com a sargento Karla lhe dá muito conforto: “Ela sempre traz novidade e me surpreende. Ela tem esse dom, de inovar todos os dias nas atividades com os alunos, trazendo melhorias para o trabalho com os jovens. É uma líder de equipe, dinâmica, sai da mesmice e consegue aproximar as pessoas, transformando o grupo em uma família. Temos um convívio excelente e nossas horas aqui parecem poucas, por ser um ambiente produtivo e não desgastante. Com uma equipe unida, o trabalho se torna prazeroso”.

Sobre o resultado do PROFESP na vida desses jovens, Albuquerque conta: “Eles saem daqui querendo ser como Karla, como Wilma. É gratificante para nós, que temos como foco a socialização desses jovens. Karla é uma peça fundamental, vital para a sobrevivência do nosso trabalho, assim como Wilma. Karla é uma criança e nada melhor do que colocar uma criança responsável para trabalhar com outras crianças”.

Satisfação pessoal - O PROFESF trouxe uma nova realidade, novos horizontes e um rumo diferente para esses jovens. A estatística já mostra a diminuição da evasão escolar, a melhoria do rendimento do estudante e o despertar do prazer pela prática
de atividades físicas. Todo esse trabalho, do qual faz parte a sargento Karla, contribui para a melhoria da qualidade de vida desses estudantes. Todos ganham, os alunos, a escola, a família, o CINDACTA III e, principalmente, a sociedade em geral. “Poder encaminhar esses jovens para uma vida com propósitos e expectativas salutares de crescimento como cidadãos é gratificante, principalmente se você é testemunha da mudança de comportamento que traz bons resultados. Melhor ainda é saber que você está inserido nesse processo, como ponte, ligando-as à uma transformação de vida” – finaliza Karla.

Fotos: Luiz Eduardo Perez e acervo pessoal.