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Irmãos taifeiros: superação e parceria no norte do País

Conheça a história de vida desses dois militares que servem em Manaus (AM)
Publicada em: 16/04/2016 09:00
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Fonte: VII COMAR, por Ten Lorena Molter
Edição: Agência Força Aérea, por Ten Flávio Nishimori

Lima e G. Lima. Quem conhece os dois taifeiros, um da Base Aérea de Manaus (BAMN) e o outro do Sétimo Comando Aéreo Regional (VII COMAR), talvez não imagine os obstáculos que os irmãos tiveram que superar até chegar à Força Aérea Brasileira (FAB). Nemias Gomes de Lima e Simeão Gomes de Lima nasceram no interior do Amazonas, em uma comunidade chamada Guarani, localizada no município de Amaturá, distante 1.072 km da capital.

Mais velho, Nemias, o hoje Sargento Lima, deu os primeiros passos para que os dois entrassem na Aeronáutica, contornando dificuldades da vida.

“Meu pai era agricultor. Quando eu tinha quatro anos, nós viemos para Manaus para ele tratar uma cirrose hepática, decorrente de uma hepatite mal curada. Ele lutou, mas não conseguiu e morreu quando eu tinha de 4 para 5 anos. Com 6 anos, comecei a trabalhar, vendendo coisas nas ruas”, conta.

A mãe deles tinha, então, quatro filhos para sustentar. Um outro irmão mais velho havia morrido em um acidente, na época em que o pai ainda estava internado. Sozinha com as crianças, ela começou a trabalhar durante o dia e a noite para criar os filhos. “Ela trabalhava em casas de família, durante o dia, e em um restaurante até a madrugada. Muitas pessoas queriam ficar com a gente, mas ela nunca deu nenhum dos filhos. Depois, sem moradia em Manaus, morávamos de favor na casa dos outros”, relata Lima.

Diante dessa situação, um primo dos irmãos ofereceu moradia para a família em um sítio no município de Presidente Figueiredo, distante 130 km da capital amazonense. Lima conta que foi um período muito difícil porque não havia de onde tirar a subsistência. “Muitas vezes, o nosso alimento do dia era palmito que a gente pegava da mata. Eu colhia algumas frutas lá também e vendia em uma vila chamada Balbina, onde fica a vila dos trabalhadores da usina hidrelétrica de lá”, recorda.

Foi então que a sorte dos irmãos começou a mudar. Lima pegava carona até a vila para vender suas frutas. Em uma dessas viagens, a pessoa que dava carona ficou compadecida com a história dele e decidiu ajudar. Arrumou um emprego para o seu padrasto e, com nove anos, Lima começou a estudar. “Eu entrei no meio do ano, mas não conseguia escrever nada. A pedagoga me chamou para escrever meu nome, o do meu pai e da minha mãe e eu não sabia. Aí ela me colocou na alfabetização e no final do ano fui eleito o melhor aluno. Aprendi a ler e a escrever nesse período, em seis meses”, explica. Como recompensa, podia escolher um presente. E pediu o material escolar para o ano seguinte.

Com 15 anos, deixou Balbina e se mudou para Manaus para continuar os estudos. “Prometi à minha mãe que a gente ia melhorar de vida”, revela.
Promessa cumprida. Lima concluiu o Ensino Médio, fez a prova para taifeiro da Força Aérea e passou. “Nesse ano de 2007, entrei na FAB, concursado no quadro de taifeiros. Ao final, fui o segundo colocado da turma”, conta com orgulho.

Com o novo emprego e estabilidade, Lima levou Simeão para morar com ele. “Consegui com um amigo colocá-lo para estudar e fazer o curso de garçom no SENAC”, explicou Lima.

O taifeiro Simeão Gomes de Lima, o G. Lima, seguiu os passos do irmão. Ingressou na Aeronáutica como soldado e, no mesmo ano, fez o concurso para taifeiro, mas ficou como reserva. Continuou estudando e, no ano seguinte, passou na prova para soldado de primeira-classe. No entanto, queria ir além. Inscreveu-se para a prova de taifeiro mais uma vez e passou em primeiro lugar. O militar também concluiu o curso de formação na primeira colocação.

Os dois continuaram estudando e buscando o aprimoramento. Atualmente, também são comissários de bordo do Sétimo Esquadrão de Transporte Aéreo (7° ETA). “Devido às minhas boas notas e desempenho, fui indicado para o curso de comissário de bordo. Tinha o perfil para trabalhar, a responsabilidade e a operacionalidade. É muito gratificante. A gente se sente orgulhoso por ajudar pessoas e cumprir missões”, ressalta G. Lima.

O irmão mais novo fala sobre o exemplo do mais velho. “Ele foi meu espelho. Sempre puxou minha orelha. Até hoje puxa. Eu o respeito muito. Ele foi tipo meu pai. Carregou a gente nas costas, como o filho mais velho. Escuto o que ele fala e tento fazer o que ele diz. Ele é meu irmão. E a gente se dá bem”, conta.

Lima resume a história de sua família e destaca a importância dos valores e das metas.

“Eu falo sempre para meu irmão que ele é a prova de que, se a gente se esforçar, vale a pena ajudar as pessoas. Se você tiver um objetivo, consegue chegar a qualquer lugar, sempre com humildade, respeito e os pés no chão. Tenho valores que adquiri com o tempo, que minha mãe ensinou e que eu tento ensinar para meu filho. A promessa que fiz para minha mãe me manteve de pé. Teve um período da minha vida que eu tive que juntar latinhas no lixão. Hoje, eu me sinto realizado e sei que meu filho não precisará passar por isso”, finaliza.

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