SEGURANÇA DE VOO

Padronização de instrução aérea é tema de estágio pioneiro no RS

Evento será realizado nos dias 1° e 02 de junho
Publicada em: 28/05/2015 11:54
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Fonte: SERIPA V

  Preservar vidas humanas e indicar o caminho da profissionalização às futuras tripulações da aviação brasileira. Essa é a motivação dos investigadores do Quinto Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (SERIPA V), localizado em Canoas (RS), para promover o primeiro Estágio de Padronização de Instrução Aérea (EPIA). O evento será realizado nos dias 1º e 02 de junho, na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), em Porto Alegre (RS).

“Esperamos elevar o conhecimento técnico e motivar os pilotos para que, por meio do aperfeiçoamento da instrução aérea, consigamos desenvolver um compromisso com a qualidade e, ao mesmo tempo, desenvolver a mentalidade de segurança de voo nesta e nas futuras gerações de pilotos civis”, afirma o Chefe do SERIPA V, Tenente-Coronel Luís Renato Horta de Castro.

O estágio vai apresentar boas práticas e ferramentas de padronização para aperfeiçoar o trabalho dos instrutores de voo, bem como melhorar o desempenho de alunos que se preparam para ingressar na atividade aérea. O público-alvo são diretores de aeroclubes e de escolas de aviação, gerentes de segurança operacional, instrutores de voo e alunos.

Além do Rio Grande do Sul, já confirmaram participação profissionais de dez estados brasileiros (Mato Grosso, Santa Catarina, Paraná, Rio de Janeiro, Pará, Amazonas, São Paulo, Bahia, Minas Gerais e Espírito Santo).

As palestras, proferidas pelos investigadores do órgão regional, debaterão temas, como o panorama atual da aviação de instrução no Brasil, aspectos psicológicos, didática aplicada à instrução aérea, comunicação, preenchimento de fichas de avaliação, aerodinâmica e desempenho em aeronaves de baixa performance, legislação e erros mais comuns em acidentes de instrução.  Dados CENIPA

Índices – O estágio de instrução é uma iniciativa pioneira no país. De acordo com análise do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA), no período de janeiro de 2005 a dezembro de 2014, foram registradas 70 ocorrências aeronáuticas com aeroclubes e escolas de aviação. O Estado de São Paulo apresentou o maior índice (34,53%), seguido pela região Sul (31,39%).

Os dados indicam que julgamento de pilotagem com 19,29% é o campeão no ranking dos fatores contribuintes recorrentes nas investigações de acidentes da aviação de instrução. Aplicação de comandos e supervisão gerencial estão empatados no segundo lugar com 12,14%, seguido de pouca experiência do piloto (10%). Em relação às fases de voo, a maior parte dos registros ocorre no pouso (24,29%) e na decolagem (17,14%).

  SERIPA VEm entrevista, o chefe do SERIPA V destaca as razões que motivaram a criação do primeiro estágio e a necessidade de preparar as futuras gerações de pilotos. Leia os principais trechos a seguir:

Seripa V – Como surgiu a ideia de criar um Estágio de Padronização de Instrução Aérea?
Tenente-Coronel Renato -
O EPIA surgiu da experiência com a investigação de acidentes na Aviação de Instrução e da análise sistematizada daqueles fatores contribuintes mais presentes nas ocorrências deste segmento da aviação geral que apresentavam problemas no acompanhamento diário da instrução (supervisão e planejamento gerencial), bem como os problemas resultantes da formação dos pilotos (julgamento, planejamento de voo, instrução, aplicação dos comandos.

Seripa V - Qual é o objetivo dessa proposta?
Tenente-Coronel Renato - É apresentar ferramentas e boas práticas aos gestores dos aeroclubes e centros de instrução aérea, bem como ao corpo de instrutores para a melhora do processo ensino-aprendizagem naquelas instituições. Creio que, com esta iniciativa, estamos dando um passo importante para elevar o nível de profissionalização do segmento e, ao mesmo tempo, mitigar ocorrências e reduzir as estatísticas da aviação de instrução.

Seripa V - Qual a situação da Aviação de Instrução hoje no Brasil?
Tenente-Coronel Renato - A aviação de instrução atualmente passa por um momento de grandes dificuldades. A maioria das aeronaves que hoje equipam as escolas, os centros de instrução e os aeroclubes no país são aeronaves convencionais e tecnologicamente ultrapassadas. Assim, cria-se um grande descompasso entre o que a instrução pode oferecer em relação ao que se espera em um ambiente de linha aérea ou de aviação executiva. A gestão dessas instituições precisa ser mais atuante e presente no dia a dia da instrução aérea. Um dos maiores obstáculos identificados é a ausência dos gestores e diretores em grande parte dessas organizações, pois a maioria exerce outros ofícios paralelos e não consegue atuar diretamente nas condições e circunstâncias que geram os acidentes.

Seripa V - Quais são os principais problemas enfrentados pelos instrutores de voo?
Tenente-Coronel Renato - O instrutor de voo, hoje disponível no mercado, é basicamente o jovem que está interessado em voar nessas instituições para acumular as horas de voo necessárias à obtenção da Licença de Piloto de Linha Aérea (PLA). A realidade sócio-econômica das organizações não promove a fixação do instrutor à instituição. Como a procura é maior que a oferta, não há nenhum atrativo financeiro relacionado a esta ocupação. Ou seja, a atividade de instrução atualmente é um ofício passageiro. Um trampolim para uma oportunidade futura mais vantajosa. A informalidade e a falta de motivação têm conseqüências graves na qualidade da instrução aérea.

Seripa V - Existe a possibilidade de realização desse evento em outras regiões?
Tenente-Coronel Renato - Estamos desenvolvendo um projeto piloto e precisamos analisar resultados. No entanto, com o apoio de parcerias, planejamos levar o EPIA para Santa Catarina, Paraná (Londrina e Curitiba), além da região noroeste do Rio Grande do Sul [Carazinho]. Estamos verificando datas para agendar esses eventos.

Seripa V - Qual a sua expectativa em relação a esse primeiro contato com a Aviação de Instrução?
Tenente-Coronel Renato - Face ao grande número de inscritos, as expectativas são as melhores possíveis. O evento foi concebido para ser uma verdadeira troca de ideias que promova a profissionalização do setor em vários aspectos. Com essa iniciativa, esperamos elevar o conhecimento técnico e motivar os pilotos para que, por meio do aperfeiçoamento da instrução aérea, consigamos desenvolver um compromisso com a qualidade e, ao mesmo tempo, desenvolver a mentalidade de segurança de voo nesta e nas futuras gerações de pilotos civis.

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